Gatos e escadas


Hoje é dia de colocar em dia todos os bons pensamentos e sacudir fora a velha carcaça que me acompanha. É para me livrar da pecha de supersticiosa. Pensando nisso, eu nunca tive medo de gato preto. Lembro que quando menina, segui um gato, que costumava ficar me olhando ao longe.

Não sei o que esperava o felino. Diante da minha imaginária expectativa fiquei curtindo a paquera gatuna, vendo bruxas voarem envoltas na luz de uma grávida lua. Mas, era fim de tarde e o medo ainda não havia me alcançado.

Fiquei a mirar até que ele se dispôs, por razões próprias, continuar o seu caminho. Queria pensar como gato porque precisava de garras para me defender diante da pouca segurança que me retinha.

Subi nos muros baixinhos que cercavam a minha casa, tentando ser rápida como ele, que de vez em quando parava e me olhava com a sua retina cortada. Será que gato vê em preto e branco?

Só quando ele subiu numa árvore, pus fim a perseguição. Sentada no chão, admirava a facilidade com que escalava os galhos. Gostava também de fazer isso, quando me delicia com frutos verdes ainda, no quintal da casa em que morava.

Eram momentos em que me deixava ficar longe de todos e buscava tranqüilidade ansiada. Eu já tinha muito barulho na mente.

Nem gato nem escada me assustavam ou assustam. O primeiro, porque me ensinou a escalar e a segunda porque me sugere subida. Ou melhor, que subir é menos arriscado que descer.

Cadentes


As estrelas sobem, ou pelo menos, na nossa visão, devem permanecer no alto. Só que, de vez em quando, caem com muito atrito na Terra. Esse é o momento, sem dúvida, de nos equiparar-nos ao seu brilho, na mesma condição terrena.

E o meu desejo é que todos nós nos convençamos a estrelar. Você está pensando que estou defendendo candidatura de algum partido? Não! Refiro-me aos nossos pensamentos altruístas. Elevar a idéia, desejar o bem do próximo, chegar perto das estrelas.

A maior constelação, sem dúvida alguma, é a TV brasileira. É lá que todos se tornam astros sem saber a verdadeira a essência da Luz. Brilhar sem luz própria, igual às estrelas, e cair desastradamente, que nem elas.
Por que será que a mídia insiste tanto em dar espaço a personagens vazos? Não se deu conta ainda, que como seres miméticos, estamos sempre em busca de alguém pra nos espelhar?

É um céu midiático, extremamente vazio. Não citarei aqui as estrelas do momento pelo simples motivo de não apoiar essa tática.

Reclamar é mais fácil


Reclamamos do lixo que se espalha na Cidade, mas o que fazemos para evitar que isso aconteça? Depois que passei a entender a necessidade da higiene, tento fazer a minha ínfima parte. Não jogo ao chão nenhum papel, por menor que seja. Ao colocar o bombom na boca, a embalagem vai para a minha bolsa.

Aprendi a refletir sobre os nossos hábitos mais resistentes. Vinha curtindo a viagem do grande ônibus, hoje cedo, e uma gentil garota pegou a agenda, permitindo liberar uma das mãos e me garantir uma acomodação melhor. Fiquei observando-a degustar um iogurte, e, surpresa, assistí 'a queda livre da embalagem de plástico janela a fora. Se ela tivesse olhado um pouquinho mais pra cima teria visto uma caixinha discreta com o letreiro lixo.

E o que isso tem demais, a maioria de nós não faz? Pois é, por isso a Cidade que deveria ser bela poderá se tornar um reduto de lixo. Acho que esse pensamento não incomoda a mocinha tão belamente vestida, roupas como a moda dita, tão cuidadosa com a aparência.

Qual seria a sua reação se eu lhe tivesse dito que estava fora de moda? Que jogar lixo nas ruas é trash?

Só pra justificar

O tempo inteiro da nossa existência buscamos justificar atos, ações e efeitos. Assim procedemos na busca de entender os porquês da vida terrena: De onde viemos? Para onde vamos? E o que estamos fazendo aqui?

Só que nem sempre estamos atentos a esses questionamentos com a profundidade necessária. E ficamos correndo de um lado para outro, confusos com as interrogações, dando opiniões (como esta)com o que nós conquistamos na atual viagem.

Deve ser devido a isso que continuam sem explicação aceitável, o choque dos aviões que vitimou 154 pessoas; a origem do dinheiro que seria utilizado para pagar um dossiê contra candidatos do PSDB; o retorno de Collor à vida política, e bem votado; assim como de Paulo Maluf; a feira de pássaros em Fortaleza; as pichações; o baixo salário mínimo, que deveria servir de base e não como salário de fato; proliferação das bandas de forrós; as guerras, massacres .....

Um capítulo após outro



Não vejo novelas como algo que tenho que seguir todas as noites. Mas, entendo quem as segue, como pauta da rotineira vida.

São as nossas dores representadas por pessoas talentosas, que mesmo demonstrando o que todos nós conhecemos, chegam a surpreender.

São as lágrimas saindo de olhos belos, com maquiagens artísticas. Palavras bem elaboradas, ditas com emoção eloqüente. Afetos e desafetos abundantes, que inspiram torcidas.

É o êxtase de problemas comuns, que na tela não nos pertencem, mas que temos sempre uma idéia, uma forma de ver que tudo resolve! Criamos amigos, buscamos ser leais e até mesmo cúmplices, arrumando formas para justificar o intrincado enredo.

Acompanhamos o desenrolar dos "fatos" e nos angustiamos com a personagem principal, sempre com uma justificativa pronta. Elegemos a heroina ou o herói, porque nosso modelo do bom senso.

Enquanto isso, os atores representam para todos apenas aquilo que mostram na telinha. E os noveleiros de plantão querendo imortalizar o personagem que ajudou a construir, numa interação virtual de passar adiante as suas emoções.

É a formatação da vida com direito a produção sofisticada. O que interessa mesmo o que faz o escritor para driblar a concorrência? Nada mais é concorrente do que a manjada forma de terceirizar sentimentos.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...