Somos ricos


Aqui, costumamos dizer que o espinho quando tem que furar, do nascimento já traz a ponta. O ditado serve para várias situações: para elogiar, maldizer e argumentar ações de outrem. Para continuar o papo na cearensidade, temos o humorista de Maranguape, Chico Anísio. E vem da lembrança de família, as primeiras pontas de humor protagonizadas por ele.

"Com um ano e oito meses, ele imitou um mata-mosquito capenga que esteve no sítio, em Maranguape, numa campanha de saneamento. Quando o homem ia saindo de casa, o menino saiu atrás, andando do mesmo modo que ele". Declarações da mãe do próprio, a senhora Haidée Paula.

Chico é simplesmente fantástico. Pois não é que ele tentou colocar humor na política econômica? É claro que foi por amor. Porque talento é divino. Competência e compromisso são conquistas individuais.

E eu, desde muito cedo, descobri intimidade com as letras e a partir daí, comecei a sobreviver por meio delas. Escrevia as famosas e famigeradas redações escolares em troca de livros, de merenda e cadernos. Recebia bônus acompanhado de tapinhas nas costas pela conquista da nota máxima.

Vi, sem perceber de fato a minha realidade, porque só agora compreendo, que Deus nos coloca exatamente no lugar necessário. Ao invés de bonecas, brinquedinhos de plásticos, eu me entretinha com leitura.

Tudo merecia a minha atenção até bula de remédio, que tempos depois, por não entender o dialeto dos químicos, larguei de mão. Criei textos e mais textos. Ainda bem que nenhum chegou a ser publicado. Foram tantas bobagens. Não obstante, tão enriquecedoras.

Artes & artes


Eu não entendo artes plásticas. Aliás, não entendo de artes para fazer avaliações e, muito menos, crítica. Mas, como a ignorância é mãe da pretensão e permite, como toda mãe, deixar os filhos crescerem, eu vou comentar o que tenho visto por aí.

Lembro quando iniciava no jornalismo, completamente verde de tudo e recebia pautas para cobrir o cotidiano. Com apenas o nome da exposição(não lembro, por favor, não me cobre) fui topetudamente 'a exposição de artes plásticas.

De cara, me deparei com cerca de 10 metros de plástico transparente, estendido no teto com alguns furos de onde saíam lentamente, grãos de areia. Demorei um tempo, busquei no arquivo da mente o que poderia sair dali. Um pouco mais a frente, baldes cor de laranja, balançavam presos a um fio invisível e que também deixavam cair aos poucos, gotas de água. Consegui atravessar a criação e um pouco mais a frente, pneus amontoados uns sobre os outros. Um pouco mais adiante, pendiam do teto, inúmeros rolos de papel higiênico, harmonicamente soltos, leves.

Eu nunca saí tão frustrada de um lugar. Fui enfrentar o chefe de redação. Supliquei compreensão para algo que não compreendia. Ele, bem mais escolado, salvou-me: Cite a exposição, nomes dos expositores, local, você sabe... Ele falava do básico: o que, quando, onde, como, por que? Respondi quatro questionamentos, porque o último, até hoje não saberia responder.

Eu tenho muito respeito pelo artista. E foi por esse sentimento, que me omiti. E com o correr do tempo o refúgio em outras pautas, acabei deixando a intenção de estudar artes. Como lamento não ter buscado ir além da inspiração.

Pela gentileza



Há lugar para a gentileza no mundo convencional? Antes que você responda, eu digo que as convenções restringem as boas ações. Quer ver? O motorista de um coletivo, por exemplo, se parar fora do ponto convencionado, para receber um usuário de todos os dias que ele já conhece, é contravenção.

O caixa de um banco, supermercado, ou semelhante, atender a sua mãe, amiga, ou amigo, antes que todos que estão na fila. O mesmo caixa largar tudo o que está fazendo para sair de trás do balcão de atendimento e dar um beijo apaixonado no amor que acabou de entrar na agência.

Arrancar uma rosa de um jardim alheio para ser romântico. Aceitar um bombom recheado de chocolate com coco e passas sem dizer que está de dieta ou perguntar quantas calorias contem. E comer gemendo(hummmm).

Pegar sanduíches numa mesa farta de café para levar a um amigo que não pode comparecer porque estava trabalhando.

Jamais recuse ou perca oportunidade de ser gentil. Isso, porque as convenções humanas são falhas e não são gerais. E jamais esqueça de agradecer. É o mínimo que podemos fazer por alguém que se arrisca a contrariar os códigos de convivência.

Racionalizando



Gosto de cachorros mas, nem tanto de gatos, pior ainda de ratos. E na preferência, o latido afasta a curiosidade felina, que por sua vez, dá um basta nos roedores. O primeiro, merece atenção e gastos. Os que vêm em segundo plano, mais higiênicos, vivem à flor da pele e a terceira categoria, comporta os que não são queridos, ninguém os procura, mas sempre estão por perto.

Na vivência, assim dividimos espaço com o que queremos conquistar, com o que buscamos aprender a gostar, e aqueles os quais somos constrangidos a suportar. Na cadeia da lógica, a inteligência humana ganha em competência. No entanto, ninguém consegue saber o que quer o cachorro, que não cheira o gato, que leva a sério o instinto predador.

É como já disseram: "Deus cria e mantém, o homem transforma". Os animais domésticos se "humanizam" sem opção. E para desfrutarem da nossa companhia, viram artigo de luxo. A indústria e o setor de serviços voltados para atender a clientela, cresce cada vez mais. Já os roedores apenas ganham essências mortíferas.

Enquanto isso, em nome do progresso, o homem por ignorância caprichosa transforma os rios, mananciais de pura vida, em cemitérios. É uma pena que os peixes, fonte de alimento, não tenham o mesmo tratamento.

O que será?


Há 30 anos, o mestre da letra musical, Chico Buarque, lançava um álbum, quase fiel à riqueza de criador compositor que ele é. Digo, quase porque nenhum de nós consegue se mostrar por completo. Não por medo, por ser misterioso, mas por falta de conhecimento próprio.

Agradeço ao Chico por ter surgido nos meus 20 anos, período em que eu não estava mais perdida de mim por falta de espaço. Eu simplesmente me ignorava. E aquele moço de olhos que nos dá esperança, se debruçava sobre o íntimo da sociedade.

No álbum em questão, tão atual, ainda nos deixa sem respostas para muitas interrogações. O que será(à flor da Terra), é assim. E, eu atrevidamente, vou analisar o seu recado.

Na primeira estrofe, Chico chama atenção para a necessidade do amor verdadeiro. Apesar da lasciva, o amor é o principal fundamento para que o encontro dos corpos transcenda, atinja o objetivo de representar a união.

Exorta para as combinações feitas às escondidas, na escuridão do desconhecimento, da verdadeira importância do Eu. Assim como a luz que o conhecimento e a importância pelo outro, sugerem.

Fala sobre a grita, do falatório dos queixosos e da efervescência da nossa insatisfação. Do afastar do equilibro natural do universo. E que, sem a busca, jamais teremos certeza do que virá, porque para a maioria de nós, ainda, o advir é um mistério. Fala sobre a inexistência da fé, para a materialidade do mundo, na dúvida de que continuamos.

Já na segunda segunda estrofe, expõe as promessas no afã da emoção, esquecida por nós, quando flagramos no outro o contraste para o perfil desejado, pura fantasia nossa.
Exalta a fé, que vai consertar tudo, no Deus dos momentos de socorro e na ilusão nossa de melhoria sem trabalho. Diz que na sobrevivência somos todos iguais. Não importa de que lado estejamos. Se com a arma na mão, ou sendo o alvo.

Aponta, o que nos dita a falta de alternativas nos momentos de angústias em que nos colocamos, esquecendo-nos de que para sair precisamos por um pé na frente do outro.

Na terceira estrofe, Chico me faz lembrar o mestre de todos os mestres: “que me ouça quem tem ouvidos”. O nosso dia-a-dia com as missões e provas. E a continuidade da mesmice para os que ainda não vislumbram saída.

Estampa a providência divina perene, contínua, abençoando a todos, atendendo a todos por igual, dentro das suas necessidades. Mesmo para aqueles que nada muda, que o homem não transforma, não se transforma. E que a justiça se faz promovendo um reencontro futuro, de todos nós.

imagem publifolha.folha.com.br

Bobagem é calar, rir é preciso

Preciso exercitar muito a tolerância. Nada mais me incomoda do que responder o óbvio. Eu não sei por que motivo eu fico de bico com perguntinhas fora do tom, do tipo, vai sair? quando alguém me vê com a chave na mão, fechando a porta e com os dois pés já na calçada.

Mas isso não é coisa de cinquentona, não! já faz tempo que sofro do abuso. Não consigo conter, por um momento, o mal humor(coisa rara na minha vida, mas que acontece), quando alguém me ver chegar e salta - oh, você chegou?

Pra mim é incompreensível o mal estar. Ainda bem que consigo emudecer a resposta. Se as pessoas ouvissem, com certeza perderia a amizade de muitos. E veja aí como sou mascarada. Não gosto e finjo não me incomodar. Entendeu por que preciso de uma ouvidoria?

Na maioria dos dias da minha nem sempre pacífica trajetória, calei seco, engolí o caroço da resposta mal-criada e me fingi de boazinha, falando exatamente o contrário do que o cérebro teimava em expor.

Por isso, mais uma vez admiro a formidável criação. Como é possível, sem fazer quase nenhum esforço, pensar algo insistentemente, e responder um outro pensar, sem deixar perceber a emoção? Aí, a dissimulação é providência divina, também. Que Deus me perdoe por mais uma bobagem escrita.

Agora, se você é do tipo que não consegue calar, precisa responder e tem dificuldades de escolher as palavras, há muitas alternativas. Uma delas é procriar frases feitas e cultivar o bom humor.

Por falta de assunto, hoje estou com prosopopéia flácida para acalentar bovinos, num colóquio sonolento para gado bovino repousar.

Mas negar oportunidade de dar boas gargalhadas ao internauta que me prestigia, não deixo mesmo e não vou sequer, considerar a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contrações laringo-bucais Porque rir, ajuda a deglutir o batráquio.

Para entender as últimas frases, divirta-se no sítio bem bolado.

Homenagem do Pensar para aquele que fez rir e, acredito, que desde o seu nascimento, Espanta a tristeza.




Preciso de uma ouvidoria


Vou criar uma ouvidoria para mim. Mas, é só para ouvir o meu íntimo. Estou tentando ser leal comigo. Pensa que é fácil? É um exercício lento, gritante, enquanto que para os outros, irritante.

Sempre reclamei lealdade, mas na maioria das vezes fui cúmplice. E como dói. Vi que ficar calada diante de uma situação constrangedora nem sempre é sapiência. Pelo contrário. É deixar escapar oportunidades de recuperar a fonte da verdade perdida no ego.

E quando falava, digo melhor, reclamava, quem queria me escutar? Nem euzinha. A medida que mergulhava no self e me deparava com o que considerava arquivo morto, quanta decepção! E para não continuar sofrendo, fechava, interrompia o dowload. Criava uma outra pasta tipo aquelas portas com dizeres não entre.

Mas, é tudo uma questão de aprender conviver consigo. Não gostou? Reclame! Mas, hoje escolho o tempero que acompanha o molho. Antes, irritada, raivosa. Hoje, mais amena, não menos incisiva, mais sóbria, menos arisca.

E sinto um prazer enorme quando sou atendida. Hoje, mesmo experienciei a glória. Cobrei ação imediata contra a fumaça que invadia minha casa, no momento em que preparava o almoço.

Prontamente, sem falar, o incendiário e esquecido de mim, o vizinho, apagou o fogo antes de queimar a paciência. Mas, tenho argumentação: a fumaça, por menor que seja (aqui eu medi), me deixa sem respirar. E eu vou morrer só porque você quer?

O vizinho (nem vizinho, de fato é) que nem me conhece, atendeu. Eu espero, sinceramente, que ele se lembre que a casa desocupada é a dele à espera de comprador. A minha e as outras do quarteirão estão devidamente ocupadas.

Moro em casa com cultura e traumas de apartamento. Nem sempre tive boa vizinhança. Mas isso, é outra história.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...