Diante da latinha


Gosto de Coca-Cola bem gelada. Isto não é propaganda, acredite.

Logo depois de saborear o produto, não costumo pensar no que virá a seguir. Qual seria o destino da latinha? Depois de comprovar o consumo junto aos produtos à mesa, irá para o lixo, que não é, com certeza, o destino final. Será a esperança de muitos catadores. Uma vez recolhida receberá com precisão, o golpe do pé de quem recolhe e sobrevive nas ruas. Depois de achatada será transportada nos carros improvisados movidos à força do homem.


Imagino o seu pensar, já contando as poucas cédulas, que lhe valem mais do que o valor estampado. Inspiram os sentidos. O cheiro do feijão fervendo, o caldo ralo que vai aquecer o frio do abandono, o pão sem manteiga e com café frio, mas agradecido aos céus.
Enquanto moeda corrente para o empresário da reciclagem é também a esperança de quem convive com a miséria e nem se dá conta de como eu, agora, participo, mesmo sem ter consciência desse ciclo.
A latinha é concorrida tanto quanto a marca que estampa. O número de funcionários da empresa recicladora aumentou. Será que a empresa também progrediu, aumentando os benefícios? Será que além do desejo do lucro, há uma ouvidoria para atender os reclames dos trabalhadores?
Quando olho para um catador, trabalho a minha arte de copidescar: ponho luvas amarelas, botas emborrachadas(nesse calor é mais um desafio), roupão colorido para ser visto pelos guiadores malucos da Cidade; máscara branquinha à prova de manchas. Você já imaginou um catador assim?

E agora, pronta para pedir outra, como gostaria de ter sido mais útil no passado.

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