Doce infância


Eu sou do tempo que comida típica era sobrevivência e não exótica como hoje. Que comer canjica quentinha, queimando a boca era um dos maiores prazeres. Ainda com a mão com marca amarela do milho que ajudava ralar e depois coava nos panos grandes próprios para isso, sorvia aquele bocado temperado com ervas e muito coco. Especialidades da minha mãe com quem aprendi a fazer os quitutes depois costumizados com o meu jeito temperado de ser.


A aventura começava cedo na feira, momento em que aprendia a diferenciar a melhor espiga. Depois, em casa, tirava a casca e com a ajuda de uma faquinha de ponta, os cabelos dourados, que depois enfeitavam a bonequinha de sabugo. O cheiro dos caroços sendo moídos me enebriava e lançava convites no ar para uma mudança de atitude. Conseguia vencer o desafio de segurar aquela colher enorme de pau e invejava a mamãe que com braços fortes, transformava a mistura num manjar.


Lamber panelas com a irmã, numa disputa de rinha. Eu, sempre gulosa recebia censuras que valiam à pena porque o doce mais doce da minha vida estava ali, na ponta dos dedos.


O prazer da infância nesse período junino era também vivido nas ruas, onde esperávamos sentadas sem a preocupação de se contaminar com micróbios - naquela época não se falava em viroses - a batata doce assar nas fogueiras. As batatas assadas não se perdiam entre as cinzas. Era o retorno da aventura, logo cedo, catar o "pão" do café que já exalava o seu cheiro convidativo na cozinha.


Na mesa, em família, os panos limpinhos eram retirados e apreciado o banquete de canjicas frias, no ponto do corte; pamonhas firmes e as batatas, devoradas com casca.

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