Morrendo de viver


Não nos preparamos para a morte. E, se analisarmos mais de perto, nem para a
vida. Sempre me mantive distante do assunto, mesmo sabendo da fatalidade. O
que faltava era estar a vontade para falar sobre o tema. Desde o princípio,
me entusiasmo com a poesia, mas mantive distância dos poetas que veneravam a
figura com a foice. Cruz, credo! Dizia.

Gosto de lembrar da minha infância porque o olhar de hoje tem um prisma mais
colorido. E como as fases são minhas e as lembranças também, faço nova
leitura e, desta vez, em cores. Pois a morte pode ser um tema arco-íris. Nada
de humor negro, mas para quem quer sempre se livrar do corpo, retalhando-o,
esticando, lipoaspirando, veja só que coisa boa saber que pode ganhar um
corpo novinho, outra vez!

Mas, como não sou dada a esse tipo de humor, o meu é escrachadamente
cearense, só que mais refinado (pra isso nem peço desculpas aos que não
são).


Morrer fisicamente também não é poético. Mas como poeta que sou,
quero retornar ao mundo espiritual sem dores. Sem despedidas porque não
conquistei a elevação moral para isso; e, muito menos, atropelada. Nada mais
antigo do que sucumbir diante da força da máquina.

Quero ir de repente, de preferência, sem planejamento(?) Apenas ir e ser
lembrada com muito risos. E sem velório, pelo amor de Deus!

O blogonauta supersticioso está pensando que estou adivinhando o meu passar
desta para melhor?

Altemando


Realmente, a definição limita a emoção. É por isso que é difícil se fazer entendida quando quero expor os sentimentos. Por mais natural que seja, eu posso estar falando uma língua completamente desconhecida para quem ouve.

Digamos que eu esteja, neste momento, de ressaca emocional. Quando o filho nasce, acontece um misto de prazer com desgosto, ou seria, prazeres diferenciados? Um ser foi arrancado literalmente, das entranhas. E, quando ele parte, sai debaixo das asas acolhedoras, fortalecendo asas da liberdade, o misto emocional retorna, bombardeando a emoção, quase adormecida.

Ainda há dois seres alados, prontos para partir, só aguardando o momento oportuno. E como ficarei? pergunta que não quer calar. É um tal de segurar e soltar sem tamanho. Quem criou a maternidade é, sem dúvida, um ser de elevação infinita, porque não conheço lição maior que me faça crescer.

Estou como definiu Altemar Dutra, tão sentimental...

Pois não é que chorei!


Eu sempre me divertia vendo mães chorando diante da(o) filha(o) que diz sim ao casamento. Confesso não saber porque agia assim. Pois não é que chorei também! Um fio de lágrima insistia prejudicar a maquiagem feita às pressas. Sim, porque esses momentos nos roubam o tempo precioso e absolutamente necessário para ultimar os preparativos.

A festa do casamento requer detalhes minuciosos, uma exigência em busca do momento perfeito. É mais um imprevisto criado, disputando com o fato novo que se sucede. Novo porque assim é para quem se inicia na aventura da vida a dois.

Entrei de azul celeste, de braços dados ao filho mais novo, num traje bem comportado, que não brigou com a sua preferência no vestir. Sem lentes, não vi o brilho nos olhos dos amigos que se confraternizavam comigo. Sim, porque a mãe também é o centro das atenções na festa dos noivos.

Sentada ali, à espera da aparição da noiva, que brilhava, trazendo com satisfação o filhinho no ventre, eu não vi a mãe que se aproximava, mas a minha menina, tornando-se uma mulher com mais compromissos de vida.

Simplesmente bela. Olhos, sorrisos, brilho. Toda luz. Foi este o quadro que gravei. E ali, de costas para o público, Érica e Danilo disseram sim à vontade e ao desejo de prosseguirem juntos. E eu coadjuvante, servindo como apoio.

A maternidade tem dessas coisas.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...