Diante da latinha


Gosto de Coca-Cola bem gelada. Isto não é propaganda, acredite.

Logo depois de saborear o produto, não costumo pensar no que virá a seguir. Qual seria o destino da latinha? Depois de comprovar o consumo junto aos produtos à mesa, irá para o lixo, que não é, com certeza, o destino final. Será a esperança de muitos catadores. Uma vez recolhida receberá com precisão, o golpe do pé de quem recolhe e sobrevive nas ruas. Depois de achatada será transportada nos carros improvisados movidos à força do homem.


Imagino o seu pensar, já contando as poucas cédulas, que lhe valem mais do que o valor estampado. Inspiram os sentidos. O cheiro do feijão fervendo, o caldo ralo que vai aquecer o frio do abandono, o pão sem manteiga e com café frio, mas agradecido aos céus.
Enquanto moeda corrente para o empresário da reciclagem é também a esperança de quem convive com a miséria e nem se dá conta de como eu, agora, participo, mesmo sem ter consciência desse ciclo.
A latinha é concorrida tanto quanto a marca que estampa. O número de funcionários da empresa recicladora aumentou. Será que a empresa também progrediu, aumentando os benefícios? Será que além do desejo do lucro, há uma ouvidoria para atender os reclames dos trabalhadores?
Quando olho para um catador, trabalho a minha arte de copidescar: ponho luvas amarelas, botas emborrachadas(nesse calor é mais um desafio), roupão colorido para ser visto pelos guiadores malucos da Cidade; máscara branquinha à prova de manchas. Você já imaginou um catador assim?

E agora, pronta para pedir outra, como gostaria de ter sido mais útil no passado.

Paternidade, maternidade


Que pais somos nós para os nossos filhos? Por apenas hoje, vi uma mãe que se negou a dar de mamar ao filho, que morreu vítima de desnutrição. Um pai batendo na filha, que perdeu a competição. Que filhos queremos ter?


A questão é o ter que tomou conta do estar. Equivocamo-nos em meio à psicologia do amor que se perdeu na primeira aula. O que ficou foi a frustração de não ter ido mais longe (e alguns acham que o filho (a) é o móvel da frustração) e daí o desejo obstinado de que ele deve prosseguir o caminho abandonado.


Imagino e lamento como deve ser a realidade da nadadora Kateryna Zubkova, que foi agredida pelo pai, que também é técnico da garota, após ela ser eliminada do Mundial de Esportes Aquáticos de Melbourne, na Austrália. O sucesso é uma conquista individual, mesmo que mova outros ao nosso redor. É mérito único.


Torço para que o garotinho que não teve o direito de receber o carinhoso alimento do peito da mãe, que alegava proibição da seita que segue, sobreviva plenamente rumo à luz.

Lembrar sem saudade


Eu tenho a forte impressão de que as lembranças não devem ser interpretadas como saudade. Aquela dor, que por maior que seja, não consegue preencher o vazio da distância sentida. Lia sobre o sentimento num texto enviado por uma amiga.


É esta a sensação que tenho da redação e dos estúdios da rádio AM do Povo. Acredito que este seja o último post sobre a emissora. Porque de agora em diante, vou me ocupar de outros temas, deitar o meu olhar sobre a Cidade, sobre o meu bairro, a minha rua, a minha casa, e sobre mim.


Não que seja por falta de argumentos, eu sempre vou lembrar daqueles momentos preciosos, mas sem dor nenhuma porque até onde sei, fiz a minha parte. Na briga contra os ponteiros do relógio ditador, o sufoco exigido pelo trabalho sempre nos provocava risos. E fazíamos da redação o nosso nicho para crescer, fortificar e informar com qualidade.


Havia programas outros em que o riso era o móvel dominante. Noutros, a seriedade se fazia sentir. Fui repórter, redatora, produtora, apresentadora e até radioatriz. Imagine, só. Ao lado de Eugênio Stone e de Valéria, que se consagrou com a personagem Rossicléia (à época ainda não estava em cartaz), levamos ao ar estórias argumentativas em programas de cunho educacional.


Ao lado de Adísia Sá, a mentora de todos nós, encarei sem dificuldade e constrangimento as sugestões e críticas dos ouvintes. Ela como ombudsman e eu na direção da emissora. Foi com a nossa mestra que aprendi a fortalecer o meu caráter ético na profissão.


Lembro que Adísia sempre me socorria quando, diante de situações adversas, a dúvida me consomia. A professora costumava dizer: eu não faço concessões. Ou: não tenho saudades. Sempre me dou por inteira. Vivo intensamente o momento, a situação. Sigo o modelo e vou adiante, recordando os amigos, a amizade sem melancolia.


Aos meus companheiros, um abraço virtual, mas uma energia real. Muita luz!


Festa sem barulho


Acabo de ler matéria no O Povo sobre os 25 anos da AM do Povo, como ficou conhecida. Confesso que senti falta de cores. Digo, de festividades!


Comentei sobre a possibilidade de ser mais barulhenta a passagem, mas pensando bem, a rádio tem sido uma festa durante todo esse período, que está no ar. Deve ser essa minha veia festeira que tenho que fica cutucando e criando necessidades.


Logo nos primeiros anos de atividades, os aniversários eram comemorados com a participação de inúmeros artistas de renome nacional. O público que não se limitava apenas a ouvir a programação, estava concosco diariamente, sendo platéia e bastidor simultâneamente, aparecia e dava cor e som às comemorações.


Mas, é na informação que está o brilho da AM do Povo. É por meio dos âncoras que a Cidade se mantém informada. Não obstante, a dificuldade de vender espaços, porque só quem trabalha em rádio sente na pele a dificuldade de se fazer reconhecer a qualidade merecida.


Como formadora de opinião, prestadora de serviços e, fundalmentalmente importante na formação de cidadania, o rádio está no mesmo patamar de descrédito que a escola. Afirmo sem medo de estar cometendo injustiça. Falo no tocante à educação porque quem informa, educa.


Mas, resiste ao tempo e às adversidades porque está sempre pronta para prestar serviço e a emissora que foge desse objetivo apenas fica no ar, devendo a todos nós a oportunidade da informação.


A AM do Povo tem se mantido firme porque tem no leme uma pessoa com visão ampla que o meio precisa: Demórito Dummar.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...