Basta um trago


A propósito sobre matéria que acabo de ler no O Povo, lembro que comecei a fumar ainda muito cedo por admiração à uma amiga de minha mãe, que considerava chiquérrima. Ficava fascinada com aquela fumaça reta que ela soprava com muito charme, mostrando prazer no hábito.


Também me encantava ouvir - por trás da porta porque menino não ouve conversa de adulto - e ver que entre as palavras a fumaça se fazia presente, numa obediência que fugia à minha compreensão e, por isso mesmo, tentadora.


A primeira vez foi num banheiro mal cheiroso, ambiente propício para um vício. O cigarro sem filtro deixou um gosto amargo e um misto de frustração e medo, muito medo. Naquela época eu recebia mais pancadas do que carinho.


Mas não desisti. Precisava deixar de ser aquela menina boba para ser uma mulher atraente, inteligente e insisti, correndo todos os riscos possíveis. Foi uma grande surpresa ao ler num informe religioso que o homem se contamina pela boca.


O recado recheado de boas intenções não me sensibilizou. O desejo de ser grande era mais forte.


Por isso, os números não impressionam os jovens. As estatísticas estão longe do desejo de se transformarem em algo forte. Nós somos o que acreditamos. E todo garoto deseja o prazer que uma mulher linda pode oferecer enquanto sorve goles de bebidas espumantes e bem geladas.


O que é proibido para os garotos? São limites que o homem inventou para dizer a si mesmo que é um ser incontrolável.


Ser notícia


Existe uma certa distância entre ouvir e escutar. Não foi em vão o que o autor da boa nova nos sugeriu: "que me ouça quem tem ouvidos". A observação sempre será atual porque, com frequencia, nós só ouvimos o que queremos. Ou melhor: costumamos formatar a mensagem, deturpando a sua essência com o que temos de conhecimento a respeito da informação.


Em nome da pressa - essa alegativa subestima o pensar - compromete-se a informação. Ora, se nós jornalistas redundarmos o sentido da frase com o auxílio do raciocínio dedutivo, o que ocorre com quem lê, ouve e vê noticiários?


Não é atoa que o dissse-me-disse corre tão rápido e distorce o conhecimento.


Fiquei cismando hoje depois de ouvir uma pequena e importante discussão de quem é notícia com um repórter de rádio. Dizia o interpelante vocês jornalistas costumam colocar palavras na nossa boca....

Não precisou que ele repetisse, chateado, a observação, que tinha razão de ser, de acordo com as justificativas.


Vivendo e aprendendo, o chavão vem de pronto, chamando a atenção nossa com relação à responsabilidade de ser fiel ao fato. O diabo é que, na maioria das vezes, o noticiarista quer se destacar mais que a notícia.

A culpa é da rotina


Aquele prazer enorme, incalculável de estar perto do outro está vazando, indo embora? Também essa rotina ordinária que não nos deixa mais nos encontrar. É o que acontece quando se passa a dividir o mesmo teto. O que antes poderia significar estar colado no seu céu, como diz Belchior, o dia inteiro, dá espaço aquela solidão danada.
O que aconteceu com aqueles almoços e jantares comuns em lugares românticos, num convite de um aconchego sem fim? Aquelas saidinhas rápidas, aquele mata-aula inocente?
Uma vez casados, eis o desencontro. Aliás, o estresse da solidão começa antes, no noivado e na tal festa que é um desgaste infeliz, comprometendo os recursos financeiros do casal.
Quantas brigas já presenciei por conta da recepção que decepciona!

Passada a lua-de-mel – hoje sem mistério algum – voltamos à casa, ou para quem cumpriu a relação flerte-namoro-noivado-casamento, cada um fica no seu cada qual. Ou seja, escola – se ainda prematuro o casal – trabalho, supermercado, prestação de contas. Existe algo mais chato do que o outro ficar perguntando onde está sendo utilizado o dinheiro?

Falta tempo para rever a agenda para um encontro completo. E vamos levando o dia-a-dia em busca do romantismo e da ansiedade do primeiro encontro.

Tudo é culpa da rotina: gerenciar a vida de casada é um tormento, dizem muitos, sem parar para pensar que a questão converge para a falta de gerenciamento da emoção da vida comum. É a queda das máscaras que se completa. Não há mais disfarce, mas mesmo assim, só é conhecido do outro o que o outro permite ser.
Na intimidade, estamos distantes porque ser íntimo não é dormir junto.

Bom humor


É preciso ter bom humor para sobreviver às adversidades diárias. E isso o brasileiro tem de sobra. Faz com o riso estremecer os escândalos rotineiros. E vamos levando.


Contudo, é bom não confundir. Eu costumo sorrir para cumprimentar; para falar com as pessoas que amo; para dizer adeus com um retorno já prometido; mas não é fácil sorrir de satisfação diante de cenas que comprometem a sobrevivência.


Mas, "é preciso ter força, preciso ter raça" como diz o verso da letra da música Maria, Maria de Milton Nascimento e Fernando Brant.

Sorriso é prova de otimismo e esse sentimento é do que mais precisamos para sobreviver a nós mesmos.

Você que me acompanha aqui, não precisa testar o seu humor, mas se quiser, leia o que se pode fazer, achando graça, na fila do banco.

Pensando



Estava pensando sobre a nossa relação com Deus - abstraía o pensar sobre mim mesma - quando li, atrasada, matéria sobre o desencarne da jornalista e música, Núbia Brasileiro. Tive pouca convivência, ou quase nenhuma, mas, devido à nossa afinidade no mercado de trabalho, desde cedo, reconheci o seu talento.


Vi que em muitos momentos, permitir uma relação com Deus é um longo entendimento. Sim, porque transcende os limites da minha compreensão. Vi-me pequena, suplicando proteção, em meio a um labirinto onde a dor era e tem sido o principal infortúnio. Quando criança, Deus estava longe, preso ao livrinho do catecismo. E quanta frustração ao querer saber como era possível estar em todos os lugares e a resposta obtida foi um apenas acredite, ora!


Na ânsia de saber o por quê das ações divinas e quem as comandava, fui-me distanciando cada vez mais da essência. Afinal, quem sou eu? E o que faço ou posso fazer diante de Deus? Vislumbrava um tribunal. Ele lá em cima, de toga pomposa, com dedo em riste, insignficando-me mais ainda. Eu não entendia o que era ser pequena. Hoje, a pequenez da minha alma é resultado da imensidão de uma criação que não termina.

O que fizemos com os bons encontros nas varandas?


Em tempos de informática a dica é morar no computador. Porque permite interagir com o mundo e, ao mesmo tempo, exclui você do contato corpo- a- corpo, que também pode acontecer virtualmente. Tem lá suas vantagens: você não transborda de suor, não tem que responder perguntas óbvias, apresentar sorriso amarelo, desculpas vãs, que não justificam.


Apenas use emotions. Pra que perder tempo e dinheiro no transporte para ir a um encontro com amigos? Apenas entre nos chats e deslanche. O papo está chato? derrube a conexão.


O namorado virtual passou dos limites e insiste em ficar junto, de verdade e o medo toma conta do que poderia ser ansiedade ante a paixão que está surgindo? bloqueie o camarada. Afinal, nesses tempos loucos em que o revólver substitui o romântico buquê, nem saindo acompanhada da irmãzinha mais nova é indicado.


E por falar nisso, e se ele for pedófilo?


Puxa, como faz falta o olho no olho, o primeiro toque nas mãos e a longa demora diante do armário em busca da melhor roupa para impressionar. Porque por aqui, impressiono com a prática no html, nas ferramentas que busco, e tudo isso com o medo enorme de me ferrar, de fato!

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...