Viver só


Enquanto apagava aquela ruma de e-mails - tem gente que não se contenta e entope a caixa como se não tivéssemos outra coisa a fazer do que olhar a caixa postal - pensei na solidão. Em alguém particular que se fechou - acredito - para o que tem fora de si.


Comecei a cismar sobre o que seja esse sentimento isolador e percebi que dói e, a proporção que permite expandi-lo, a dor intensifica-se. Mas, o que vem a ser solidão? Considerando que o sentimento é único, individual, como é que os outros o sentem?


Quando menina achava, pelos papos que costumava ouvir, que ser só é morar numa casa ampla, quando todos os familiares foram distribuídos nos caminhos de escolha. E já me via andando por corredores enormes, com portas amplas assinalando quartos solitários, cheios de poeira. Solidão era abandono, portanto.


Fugindo da tal solidão, buscava mais companhias de meninas para brincar, de meninos para imitar os heróis da TV, nos livros que me transportavam para outros costumes; e na escola onde aprendi a libertar-me da sisudez da ignorância.


Hoje, quando morar só é uma realidade iminente, percebo que não serei, necessariamente uma pessoa solitária. Porque assim já seria se tivesse feito opções, como fechar questão em tudo que penso ser correto; bater martelo, sentenciando o pensar sobre alguém; não dar ouvidos a quem quer que seja; enfiar a cara no monitor e viajar pela net sem passar um e-mail para uma pessoa querida.


Seria solitária diante da dor sem conceder o favor da palavra alegre; sem fazer a leitura de um texto que me aproxime de Deus, sim porque sem ele, a solidão é infinita.


Xô solidão! porque só quero ser solitária no momento de decidir o que é bom pra mim. Só quero estar só, acompanhada de um por-de-sol, com contextos de árvores, balançando seus frutos, numa promessa de vida infinda.

Cientista não quer ovo


Os cientistas precisam entrar em acordo com a divulgação de certas descobertas a respeito dos alimentos e nutrientes. Passei a minha infância e a adolescência consumindo ovos de tudo quanto era jeito.

Quando criança, boa época em que os empacotados, alimentos de laboratórios não existiam como hoje, costumava merendar ovos batidos com açúcar, tudo cru, feito com carinho por uma tia muito bacana. Adorava aquilo porque dava sustança.

Depois de crescidinha continuei comendo ovos -cozidos, fritos, omeletes, bolos e etc - a vontade sem nada sofrer até que me disseram que tomasse cuidado com o colesterol. Pronto, ovo o produto mais barato do mundo, que eu colhia no quintal sem dar ouvidos aos gritos das galinhas, se tornara fruto proibido.

Era charmoso comer ovos mornos com um pouco de sal, no café da manhã. Existia até um aparador para ovo de porcelana branca.

Aí dei um tempo com o bife do olhão porque com saúde não se brinca. A família inteira acreditou. Tempo depois, a gema passou a ser a grande vilã, a clara sim, com sua transparência era indicada porque dava massa muscular. Não fui na onda, ainda bem!

Agora, vou comemorar com ovos mexidos no café da manhã deste sábado, a descoberta recente, ou melhor, a quebra do mito: descobriram que o ovo não é suficiente para por a saúde em risco. Pode-se comer um todos os dias por ser uma grande fonte de nutrientes.

Estarei entre os nove bilhões?



No ano de 2050, o Planeta Terra deverá abrigar cerca de nove bilhões de homens e mulheres. De repente, voltei o cismar para a informação e me pergunto onde estarei naquele ano. Se encarnada estiver, já serei uma idosa com 95 décadas.

Será que sobreviverei até lá e, caso isso ocorra, estarei no mesmo endereço? Sim, porque de acordo com o relatório da ONU, a tendência é migrar para cidades pequenas do interior. Isso eu já faria se pudesse garantir a sobrevivência, vivendo da arte de escrever notícias e quem sabe escreveria mais ainda, um livro, quem sabe...

Sentar-me diante do computador, sem antes correr os olhos para a paisagem de sertão cerrado, com suas matas quase verdes(?) será que ainda estarão lá? Se eu ficar na indagação, provavelmente a minha vida será mais questionadora do que no momento.

Mas participar de uma população tão numerosa me faz antecipar o prazer da resistência de um corpo já tão agredido pelas dietas exageradas e regimes ditados pelo salário, que em muitos momentos, me deixaram longe das prateleiras alegres dos supermercados.
Mas, com certeza estarei bem mais crescida com relação ao meu entendimento sobre o atual estágio evolutivo.

Paris liberta


Não faz muito a minha praia ficar bisbilhotando a vida de celebridades. Mas, não pude resistir à vontade de comentar sobre a saída da prisão de Paris Hilton, uma das garotas mais ricas do Planeta. Eu até comemoro porque ao me colocar no lugar dos pais da loirinha, senti-me presa, inativa. O bebezinho mais festejado da família estava na cadeia, lugar da escória!?


Criar um filha com amor esmerado dando tudo o que dinheiro pode e vê-la amargando atrás das grades como alguém, que desde o nascimento teve usurpado os seus direitos mais básicos, mais essenciais?


E para as presidiárias, companheiras do mesmo destino, foi motivo de festa ter a presença de alguém tão ilustre? Fez alguma diferença? Será que alguma daquelas mulheres - largadas à própria sorte, como muitas por aqui- festejou a saída ou a entrada de Paris, no presídio?


E o que fez a loirinha com tudo o que recebeu? Espero, sinceramente que a mocinha em questão caia em si depois de conhecer tão intimamente, a outra realidade que deixa a muito de nós na marginalidade dos direitos e dos prazeres materiais.

Quando a TV quer, faz


A Televisão é uma mídia que tem merecido críticas ferrenhas devido à duvidosa qualidade de seus programas. No entanto, quando quer, se transforma num dos melhores meios de identidade artística. Foi num programa da TV Senac que conheci Geraldo Simplício, um conterrâneo admirável.


Está abrigado há cerca de 30 anos, em Nova Friburgo no Rio de Janeiro. Com uma perfeição fantástica e agilidades explicadas com simplicidade por ele, as obras são expostas ao relento, é o céu quem cuida.


De aspecto meio largado, Geraldo explica de forma convincente a peça de metal que lhe cobre a testa, o chacra da inspiração, segundo ele. É para proteger o chacra frontal da interferência do mundo agitado, e o faz mais centrado para criar as suas esculturas.
Descobriu com o tempo que é possível manter as obras feitas em barrancos de areia, intactas, utilizando-se de plásticos e água em pequenas porções para regar, é assim que nasce o musgo protetor.


As mãos do artista também fazem arte em peças de madeira. Ele sobrevive com a venda das peças e com o ingresso de R$5 , que é cobrado aos visitantes do Jardim do Nêgo , como é conhecido o seu reduto de obras.


Nêgo vive sozinho, diz ser celibatário, casou-se com a natureza.

Cearense é ...


A teoria de rejeição que o cearense nutre, tese defendida pelo professor de Comunicação Social da UFC, Gilmar de Carvalho, me fez pensar muito sobre a atitude nossa, diante das grandes metrópoles e seus avanços infinitos.


Há um certo misto em mim de ter sido alijada do processo de evolução da nossa Cidade, por exemplo. Sempre quando lia a respeito do povo cearense não me sentia um dos assinalados. O nordestino é antes de tudo um forte, a sentença do escritor carioca Euclides da Cunha, sempre mexeu comigo, talvez tenha sido pela fase adolescente em que me foi apresentada.


Está de parabéns o nosso professor pela sua corajosa forma de nos apresentar. Diferente de outras oportunidades, a tese de Gilmar de Carvalho me fez sentir parte do público alvo de seus estudos. Porque em outras oportunidades, eu diria: estão falando de mim? Me conhecem? Sabem dos meus anseios?

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...