Por causa do hino nacional

Menina muito contida em casa - na realidade, castrada mesmo - soltava-me na escola. Onde mais poderia ser mais adolescente? Aprontava por meio da fala. Sempre fui de muita conversa, de preferência ser ouvida, porque achava que ninguém tinha papo melhor do que eu. Mas, também ninguém me contestava. Por que seria?



Chamava atenção dos professores porque apesar de barulhenta, conseguia me safar nas notas, era, portanto, boa aluna: assídua e estudiosa. Não saía, não conhecia quase nada da Cidade. Presa, encontrava a liberdade nos livros. Hoje, agradeço pelas rédias tão curtas, num momento em que a alma queria continuar volitando num caminho sem fim.



Uma certa vez, acho que cansado de chamar a minha atenção para assuntos sérios, um dos coordenadores da escola perguntou: sabe de cor o hino nacional? Claro que sabia! Lia tudo que aparecia na minha frente e a letra poética, que honra a Pátria estava ali, tatuada na contracapa do caderno. Ainda lembro bem o caderninho de cerca de 50 folhas, com capa verde caqui, a figura de um soldado com a bandeira nacional e o nome Avante!



Por causa do hino nacional, ganhei lugar na primeira fila - era a mais alta - e levava praticamente sozinha, o hino que me faz ficar arrepiada até hoje quanto canto. Estou sempre levantando a voz para soltar o espírito nacionalista onde trabalho, quando na realização de sessões solenes.



A partir daí, ao invés de olhares de repreensão passei a ganhar sorrisos acompanhados de acenos afirmativos de cabeça, além de pancadinhas de leve nos ombros. Tive a conquista afirmada quando o professor sentenciou a nota: Você me surpreendeu. Consegue ser tão séria quanto brincalhona.

O valor do mas


Eu sou legal, mas... Nem sempre sou tolerante, dou ouvidos, vejo o que olho, faço o que me pedem, me faço entender, faço cara séria...


Estava pensando sobre o mas que me acompanha e, por conseqüência, seguem as pessoas com as quais convivo. Eu digo, por conseqüência, porque aprendi que a reação do próximo tem a ver com a minha ação primeira.


Percebo hoje que tudo mora na tolerância. De ponta, vejo que a amizade precisa de liberdade. Eu preciso me sentir livre para gostar, de fato. E a liberdade ganha asas quando aceito, com pouca moderação, o que seja o outro.


Nada mais relaxante do que olhar o que antes era considerado vexame, uma simples manifestação do que pensa, do que sonha, do que deseja o outro.


Por conta do mas já descasei duas vezes; já larguei emprego; afastei-me de pessoas lindas e também de outras feias; e por pouco, muito pouco, não declinei da idéia de escrever e publicar o que sinto no íntimo.


Quem me ama, diz que sou ótima, mas...

Jornalismo econômico


Nunca simpatizei e não pretendo me especializar em jornalismo econômico, o que lamento, porque se acaso entendesse, não estaria alijada do processo matemático nacional. O que aprendi na escola - e lembro ter tirado boas notas - não tem me auxiliado quando quero entender o processo financeiro do país.


É claro que leio sempre a respeito do assunto porque dependo para continuar no mercado. No entanto, fico sem compreender porque num país como o Brasil, um dos que mais gastam com a previdência, os aposentados e pensionistas passam tanta dificuldades.


Com o contracheque em mão, fico com o olhar preso no espaço dos descontos, principalmente, no que vai para o INSS e busco ver o destino final do dinheiro. Com tanta denúncia de desvios, - e sei que dinheiro desviado não retorna para a origem e, muito menos, para o destino que deveria ter seguido - para onde vai o fruto das minhas tecladas e da minha atenção?


O tempo passa e a poupança continua numa boa foi uma excelente idéia do criador da publicidade, mas como poupar na incerteza da dança final dos zeros e das vírgulas?

Amigos


Rubem Alves diz bem: Amigos não se fazem são descobertos. São aquelas pessoas que mesmo sem conhecermos, amamos muito. Eu fito no pensar com relação a alguns leitores deste blog. Há internautas que voltam, comentam pensamentos para marcarem a sua passagem. Isso me dá uma grande satisfação.


Já disse aqui que a minha pretensão é ser cronista. Deitar o olhar sobre o que é bom e merece ser visto, lido com intenção de aproveitar a oportunidade. Sempre quando posso busco a amizade, que as vezes se esgueira desconfiada do meu olhar insistente. Noutros momentos se aconchega querendo colo da palavra acolhedora.


Sinto amizade por todos que passam por aqui. E quero "prendê-los" a atenção, num propósito único de fazer companhia. Eu tenho um monte de amigos. De todos os tipos. De todas as cores. Há aqueles que só de olhar me fazem um bem imenso. Outros me deixam mais viva, mais atenta. Outros ainda, me dão calma, experimento a mansuetude do olhar. Para essa amiga, a Grace, como costumo dizer, brinco com o seu jeito de ser delicado no falar. Pode até brigar comigo que vou continuar sorrindo atentamente.


Outros apenas me dão um alô, mas com tanta intensidade que a validade do cumprimento rompe anos afora.

Gosto de ter amigos, até mesmo os que me ignoram, sem nenhum despeito no pensar, como por exemplo, Rubem Alves, que de tanto talento, sempre dou um jeitinho de ficar mais próxima do que escreve.

Nem velas


Há coisas que só fazemos porque somos constrangidos a fazer, não é verdade? Uma delas é comprar caixão para servir de último transporte para alguém que volta ao mundo dos espíritos. Já avisei em casa: nada de gastos comigo. Caixão mais simples possível; orações com amigos com base no evangelho sem ser, necessariamente, velório.


Você deve estar se perguntando por quê das quantas inicio uma semana com este tema. É que acabei de ler sobre uma feira de objetos fúnebres. Tem caixão pra tudo quanto é gosto e bolso. Fico cismando porque se gasta tanto em situações assim. Seria para compensar momentos de evasivas companhias?


Ou seria para dar um adeus permanente?


Nem sempre sou atendida no que peço, mas insisto com a turma lá de casa para que me poupe e poupe aos outros a angústia do velório. Simplesmente porque se estou de partida é porque já devo (acho eu) ter cumprido mais uma etapa. Então, antes de ser um defunto, serei uma vitoriosa.


No agrado das mulheres


Um amigo reclamou certa feita: o mundo é das mulheres. E sabe por que? Porque elas reclamam tudo e de tudo. Nós homens estamos tão relegados ao segundo ou ao terceiro planos, que nos salões de beleza, deixamos de ser o mote principal.


Antes, continuou ele, as mulheres se enfeitavam para nos agradar. Agora, não! Elas só pensam nelas mesmas. Quer uma prova? Quem mais percebe a outra? Basta um pequeno comentário de uma colega ou amiga, para que tudo seja modificado!


Fiquei cismando e tentei ajudar: mas, amigo, você deve estar vendo só um lado da questão, comentei. Nós mudamos pela imposição de várias adversidades. A mulher precisou sair de casa porque se cansou de ser dependente até para comer. E também, já vai longe o tempo em que nós mulheres comportavamo-nos como objeto de posse. E, além disso, quem foi que nos largou primeiro?


Saí-me com essa porque não cabia naquele momento um discurso feminista. Também porque não acredito, não aposto e nem desejo que homens e mulheres caminhem em vias paralelas.

Foi então que ele disparou: você mesma diz que o homem não está nos seus planos e que nada mais é novidade para você com relação a nós, homens. Isso pode até ser verdade, ponderei, mas o que você acha que estou fazendo agora?

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...