Nos cascos


Fico estranha quando adoeço de corpo. Vejo-me forte, galopando em paragens verdes, maravilhosas, crinas ao vento. Ninguém me pega!

Sob os cascos, a areia cede à minha impulsividade. Sou forte, bela, dorso brilhando pelo suor não sentido. Desejada por olhares infinitamente maliciosos.

Fico assim, nas patas traseiras, desafiando a física e a autoridade do homem. Quando forte e ágil desejo de fortuna e fama. Uma vez machucada, estorvo. Nada mais me resta a não ser o sacrifício.

De volta, abatida em duas pernas trêmulas, sou humana de novo, sem o vento da liberdade, presa ao leito com uma vontade enorme de trotar. Ao largo, sem o verde e o brilho da fama.

5 comentários:

Anônimo disse...

Sei o que é isso. Ficar doente de corpo é tentar sair da dor, querendo alguém para tocar sua mão sem apertar, apenas estar presente e bastar. Recupere-se logo e ganhe os prados da vida verde de esperança.

Questão Fundamental disse...

texto bem erótico, esse.

Fátima Abreu disse...

Sério? Não foi intencional. Eu só pensava em ser mais forte e livre como um cavalo - meu animal preferido, nos prados, ainda sem o domínio do homem.

Eduardo Andrade disse...

Uma vez me perguntaram que bicho eu gostaria de ser? A resposta não demorou:
- Um leão.
Ao ser questionado sobre a escolha respondi:
- Porque gostaria ser um observador; só sair para caçar quando tivesse fome; e, lógico, ter uma leoa à minha disposição...
Depois verifiquei que isto não era possível. Cortei minha juba.
Hahahahaha!

Anônimo disse...

Muito bom Eduardo. Um amigo me disse uma vez, que o Leão é bobo: come porque é a Leoa que caça; tem filhotes porque a Leoa alimenta e protege com garras de Leoa; e só tem de muito é a juba, o que lhe permite chamar a atenção dos outros; e é feliz porque apesar de tudo, a Leoa lhe considera o rei dos animais.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...