Pensar
Ser pretencioso é tão fácil. Basta falar e imaginar sobre algo que desconhece na essência. Assim sou eu agora. Aqui, na cozinha da minha casa, lugar de predileção devido ao seu tamanho que me permite escrever como se estivesse num escritório, ver quem chega e olhar para o quintal, o meu canto verde.
Neste pequeno mundo jogo o olhar para o que ocorre lá fora e como se pudesse fitar de cima, vejo a multidão esquecida da felicidade, sorvendo a energia do fluido vital como se fosse o último gole de bebida. É a turma do funil, que bebe e me deixa tonta. Outros apertam os corpos entre si num frenesi em busca de preencher o vazio que toma conta de nós, num querer resolver a solidão.
Desperdiçando a energia sexual como se não fosse criadora, sem perceber o quão distante ficamos do outro; chorando a morte na estrada; culpando a folia pela perda da alegria e deixando para depois a queda da máscara.
Devido ao meu pouco reconhecimento fico perplexa diante do que sou e do que consumo. O mal não apenas entra pela boca, por isso sai mais fortalecido do coração. Perco tanto tempo julgando e querendo me afastar do que sou. Num suspiro, encerro esse pensar porque o fogo consome o almoço. E como o feijão, deixo-me penetrar pelo calor e amoleço com ajuda do vapor.
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