Os grandes olhos da tela empoeirada - poeira fininha, invisível aos olhos - percorria os quatro cantos da sala. Lembrava o movimento dos ponteiros do relógio, que torcia o bico com despeito da imitação. O sofá gemia baixinho amassado pelos quatro pacientes, que de tanto esperar já esqueceram o que iam tratar na consulta.
O tapete ria fingindo não sentir incômodo do pé impaciente, que raspava com o salto alto do sapato o risco da linha amarela que começava a desviar no tecido, confundindo o desenho. No alto - quase não dava para ver - o ventilador com calos de movimento circular, aquecido enquanto refrescava.
Por quanto tempo o prego vai suportar o meu peso? Indagava, ao mesmo tempo, em que corria o pensamento para afastar o medo de ficar jogado no chão. Apesar do grande movimento na sala, ninguém detinha o olhar para a sua paisagem presa no pano. Mas, espere aí. Alguém toca a textura: é pintura, mesmo. Pensei que fosse apenas uma imagem...
Ainda mais essa: ter que lidar com a ignorância sobre a arte.