Meninos - de - casa


Eu não conheço mais a minha Cidade. Quando menina, dominava poucos quarteirões da rua Capitão Uruguai, da Aerolândia. Corria descalça na areia solta, que depois virava rio quando a chuva vinha com vontade e fazia o Cocó romper os limites impostos pelos homens. O rio sempre vence a teima.


Sou do tempo que menina brincava apenas no jardim da casa. Rua era para menino, mesmo assim com severa vigilância dos pais. Não tinha menino - de - rua naquela época. Poucos eram os que apareciam pedindo uma ajuda, mas sempre acompanhados por um membro da família, numa comprovação de que não eram abandonados.


Olhava - os com olhos de menina, que conhecia a carência, mas não sentia na plenitude o que era a necessidade suprema. Ficava alegre quando ajudava.


Faziam parte dos muitos que fugiam da seca do sertão. Bem diferente hoje, cidade grande, ruas e avenidas amplas, cheias de carros importados, sofisticação nas vitrines, num confronto gritante com os pés sujos, pequenos, largados em calçadas.


Nem eram necessárias leis para dizer que criança tem direitos. Os pais e a casa, o lar bendito, que mesmo na simplicidade, era abrigo quente, igual a sopa que mamãe me dava à noite. Criança só fumava por curiosidade e era premiado com boas palmadas, além do castigo de ver a rua apenas pela fresta da janela.


A cidade cresceu e os direitos encolheram. Para cada casa derrubada, fustigada pela miséria, duas, cinco, cem crianças povoam as ruas da Capital disputada por conta do sol. Aqui, por ali, sempre estão com poses atrevidas e com um olhar expressivo do medo atrevido, característica de um abandono, que não se explica.

Sem barganhas



Ainda bem que este blog não concorre. Porque isso seria um passo em falso. Quase uma semana ausente pelo tempo que eu não soube administrar. Mas, de volta, jogo o pensar na ponta dos dedos, que seguem frenéticos, acompanhando o raciocínio.


Estamos vivendo a época da busca ao voto. O que pode ser dito e não escrito, ou dito e escrito é a tônica do momento. As pesquisas, logo mais, serão estampadas nos jornais impressos. E as perguntas que se calam continuam sem respostas. No entanto, o convite para abraçar a campanha contra a corrupção está no ar. Quem se habilita?


Neste ano, a campanha é dirigida às crianças e aos adolescentes. Se eu tivesse escrito defenderia numa linguagem simples: criança não vá na onda da sua mãe quando ela disser que lhe dá um doce por um dez na escola; uma bicicleta se comer tudo; um passeio de carro se dormir cedo; um brinquedo novo para não fazer escândalos quando receber visitas...


Eu diria: dê razão a sua mãe sempre que ela gritar direitos e cobrar obrigações. Mais vale uma mãe chata do que a barganhadora.

Fruta para abstinência criativa



As mulheres, por ocasião da necessidade de salvação do planeta, deixaram a fauna e agora estão na flora. A ordem é ser fruta(?!) A melancia inciou o processo frugal, percursora da mulher - samambaia. Aí vieram a jaca, a moranguinho, a cerejinha ... será que alguém vai querer ser abacaxi, essa fruta deliciosa, refrescante, que lembra os trópicos?


Não vou aqui dizer qual a fruta será a preferência nacional, mas o que chama a atenção é que tudo é comida. Ou seja, a mulher continua alimentando o apetite voraz(?) do homem. A minha alegria não perco. As artistas desta Terra, as que não modificam o nome para se tornarem apetitosas, esbanjam talento. Estão na mídia séria.


Frutas são excelentes, mas merecem cuidados, têm tempo de validade. Amassam com facilidade e uma vez, machucadas, amargam. Quando retratadas pelo pincel do artista é natureza morta.

Meninas - frutas, ainda é tempo: mudem. Sejam mulheres, uma tarefa difícil, mas incrivelmente tentadora, porque uma vez mulher, temos muitas lições para aprender. E essa é a missão nossa aqui na Terra.


Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...