Infelicidade


Quando a infelicidade chega, segura-a por um tempo até que ela se multiplica e fico infeliz, de fato. Porque há uma diferença: em outros momentos, a tal infelicidade diz oi e desligo-me. Frustrada, vai embora porque a infeliz precisa de atenção minha. Mas, ser infeliz não é a minha meta, apesar de ter experienciado a emoção lixo.


Vejo pessoas infelizes ao meu redor e pretensamente visualizo uma certa dedicação. Eu, não!!! pra lá! Xô desigual! Eu gosto de rir e sorriso triste é careta. Muitos escritores e poetas já deitaram loas sobre o que é ser infeliz, numa felicidade de realização rimada, mas o texto que mais me deixou de bem é do frei Leonardo Boff, já estimulado por outro pesquisador feliz, Pedro Demo.


Felicidade não sei definir senão pela satisfação de algo realizado. A infelicidade só se acomoda quando também me acomodo sem me incomodar com a alegria da natureza, o sorriso dos meus netos, a interrogação dos filhos e o mundo me cobrando gargalhadas quando sinto uma vontade enorme de mandar todo o resto às favas. Sim, porque na infelicidade eu abuso gente.


Pelos milhões



A minha filha me perguntou o que eu faria se ganhasse a mega-sena acumulada. A resposta, em tom de brincadeira, não dá para repetir aqui, mas tem o mesmo sentido do que a da maioria das pessoas que enfrenta filas nas casas lotéricas, em busca de dias melhore$.


É a mesma resposta ensaiada: vou mudar de vida. Vou melhorar. Deixar de trabalhar e sair de férias permanentes. Não sei não. Tem gente que me diz que eu penso como lisa, quando digo que não deixaria de trabalhar por dinheiro nenhum. E ter uma ruma de dinheiro não dá trabalho?


Não gosto de estar ínsone e os milhões tomariam o meu sono e nem adiantaria apelar para o vinho porque Baco não faria as pases com Morfeu. Deixar de trabalhar cultua o queixume do assalariado que vê na lida diária, um castigo. A interpretação se faz jus porque trabalhador brasileiro como lembra Seu Jorge não tem dinheiro.


É uma sinuca: sem trabalho o homem parasita-se, trabalhando indigna-se e nem se dá conta de que engorda as contas dos agentes lotéricos. Quanto maior o prêmio, maior a procura. Aí não se deve ler: quanto maior a demanda, maior o ganho.


Eu não acredito nos números fáceis que estão à vista e não os enxergo. O mundo financeiro atrai pela numerologia, ilude pela multiplicidade, engana pela divisão e equivoca pelo brilho no desbotar do desengano do ouro do tolo.

Traçando



A traça, que eu não traço, estava escondida no teclado e eu ignorando a sua presença. Dentro de sua casinha, que ela arrasta para onde vai, sem a preocupação de pagar IPTU ou seguro para intempéries. Ela deve ter algum dispositivo para prevenção dessa natureza.


Quem a criou pensou em tudo. Não sei se a libertei quando virei o teclado ao contrário e a vi cair, ficando paradinha. Depois, olhei de rabicho e lá estava ela, arrastando-se. Mas, com a insensibilidade que me rege algumas ações, despachei a visitante para a cesta onde jogo o que não quero.


Nem tive tempo de arrependimento, a moça que ajuda a manter a sala limpa, deu outro destino a tracinha. Fico curiosa e vou atrás do Google. Esse bichinho tem lá suas manias. Gosta de se esconder de gente e não lhe tiro a razão. O diabo é quando se esconde nos livros preferidos. Ele os come.


Pode ser hóspede constante e parece até nem incomodar até um dia que aquela blusa preferida tem sua marca e você num muxoxo deixa de usar. Largo o pensar meticuloso e penso que já tracei livros e roupas, deixando-os largados, perdendo a vida. A blusa retesada - porque é assim que a roupa fica quando se deixa de usar, esperando sei lá o quê - e aqueles ensinamentos maravilhosos que se perderam no arquivo sem memoriol.


A gente tem raiva dos insetos, da sua presença repelente, mas quantas vezes fugi da essência humana e já me inseticei...

Arte para não confundir



Eu pouco entendo de artes mas, por exemplo, quando compro um CD busco de um artista brasileiro, que realmente respeita o fã, compondo músicas com textos argumentados pela poesia, que representa a nossa história. São muitos nesse quesito. Isso, porque entendo que ao comprar algo que não me respeita, nem à minha família, é contribuir para alimentar o mau gosto, o lixo que invade a nossa cultura.


Por isso mesmo, nem sempre leio livros ou vejo filmes ou vou ao teatro porque a mídia me "convida". Há sempre um interesse financeiro sobressaindo ao de informar sobre a nossa realidade cultural.


Eu tenho o maior respeito pelo artista, pelo ser que transcende, tirando do recôndito da alma a inspiração para espelhar o que é belo, dentro da minha estreita visão. O homem da arte é um inspirado, é alguém que vê além do que nós na maioria vemos. É aquele que se aconselha com o Criador para mostrar aos demais que vale a pena viver, inspirar, respirar e sempre voltar para Casa.


Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...