Radiando alegria



Quando você completa 50 anos de existência nem sempre tão pacífica, costuma ouvir indagações do tipo no seu tempo existia isso? De que tempos estão falando, mesmo? Eu sou de agora, ora!


Sou do tempo em que as declarações de amor eram feitas com muito assombro, por meio de radiadoras. Lembro um momento tão singelo: Ofereço esta música para aquela linda moça, ( o amor é cego) que não é daqui e nem veio para ficar, que está de vestido azul e com uma trança do lado direito. Era eu, lógico, que na oportunidade, estava sendo disputadíssima para passear numa roda gigante. E Paulo Sérgio cantou Iracema em minha homenagem.


Saio em defesa das radiadoras por que de onde vocês acham que surgiram aquelas mensagens de aniversários com direito a carro colorido e muito barulho?


Sou também do tempo do e-mail, do namoro virtual e do fica. Tudo isso faz parte do meu tempo, sim. Já sujei os dedos inúmeras vezes com papel carbono, o precursor do Ctrlt + Ctrlc +Ctrlv = cópia.


Sou do tempo das tertúlias, do amasso disfarçado e do escancarado. Da paquera, dos olhos compridos, das cantadinhas ingênuas e também das cantadas rídiculas isso é que é mulher e não aquela que tenho lá em casa.


Sou do tempo da xícara de açúcar, de café e do arroz, que a gente sempre devolvia. Sou também do tempo em que sorrir é sempre a melhor forma de cumprimentar.



Mulheres na chefia


Interessante a pesquisa que aponta o maior número de mulheres "chefiando" casa, famílias. Penso que muitas tiveram a iniciativa forçadas pelo abandono dos chefes, que entregaram o cargo, considerando pesado, sem vocação para continuar a frente.


Não é moleza enfrentar as contas e a responsabilidade do educar filhos, administrar casa, mesmo que pequena. O lar, que não tem a ver com as posses da família, nem sempre é levado em consideração.


Lembro também que assisti famílias inteiras que se "desmanchavam" por conta da renúncia do pátrio-poder. As esposas, coitadas, sem recursos, sem emprego, dotadas de prendas do lar, corriam para as cozinhas e lavanderias das mais afortunadas.


Para garantir o alimento dos filhos, prole numerosa, na maioria, saía distribuindo as crianças, que com promessa de estudo, eram transformadas em pequenas babás. As mais ricas e entendidas constrangiam essas crianças a adotarem posturas de bichinhos de brinquedos, para entreter as crianças. E assim cresciam, morando em quartinhos carregados de bugingangas e usando roupas que ficavam perdidas nos meninos.


Isso eu vi, participei e não preciso de pesquisas feitas por estudiosos para constatar, porque até hoje a cena do flagelo família se repete.

Qual é a minha cor?




Eu não sei qual é a minha cor. Resultante de uma miscigenação, um coquetel de raças, qual foi o resultado? Se perguntar a cor da tez (nome esquisito) diria que sou pálida. Pois, cara pálida que fica lisa quando tem que responder a tal questionamento.




Sou morena, quando pego sol nas praias da Cidade. Distante do sol, a melanina se recolhe, some, desaparece! A palidez volta. Sei lá qual é a minha cor.




Seria morena porque os olhos são quase pretos e os cabelos... bom esses mudam de cor a cada humor. Já foram pretinhos, pretinhos, depois branco e preto, depois castanhos escuros e agora, dei de pau no chocolate. Seria para passar a idéia de que sou uma doce tentação? Duvido!




A mente, essa sim, é multicolor: quando sonho é verde transparente; quando viajo no pensamento é amarelo e vermelho; e quando trabalho, a memória durante as pesquisas dão um branco...




Eu sei lá qual é a minha cor. Eu só sei que sou de todas as cores porque sou fruto de uma mistura que deu certo. Então tenho o respeito pela natureza herdada pelos índios; a teimosia franca dos portugueses que cismaram com o Brasil e pará cá vieram (se foi engano, não sei) e continuam vindo; tenho a alegria dos espanhóis e a gula por massa dos italianos; a desenvoltura e criatividade dos japoneses... Ih, eles não estavam no início por aqui. Então de quem herdei os olhos ligeiramente amendoados?




Eu sei lá qual é a minha cor!






Em tempo de eleição





Estava pensando o quanto é difícil resistir na alegria quando falta alimento em casa e quando não há dinheiro para o remédio. A desesperança precisa, neste caso, ser assessorada. O pensamento lateja na lembrança de vivência semelhante e fico cismando diante das promessas eleitoreiras.



Cravo a imaginação numa fila de hospital. Ninguém olha para você, de fato, nos olhos, porque - acredito - teme se condoer e tomar-lhe o pulso, pelo menos para dizer que em qualquer momento haverá uma vaga, um leito, um medicamento.



Insisto em buscar prateleiras cheias de um supermercado, dinheiro no bolso para pagar - sem chiar - o alimento da família.



Futrico o juízo para ver páginas de livros rasgadas na esperança porque o material está acima das posses nas livrarias pozudas, cheias de coloridos emprestáveis porque naquele momento, seria muito mais útil no sebo.



Aí, a revolta é a única companhia do eleitor de quem falo. E ainda vem alguém falar que voto não tem preço, tem consequências, e como! Não as nego. Mas, será que as ruas com esgoto a céu aberto vão continuar sendo imagem para se trabalhar nas letras, rebuscando saídas, que se sabe não serem exatamente a proposta do momento?



Só escrevendo em respeito ao voto. Em respeito ao eleitor.



É só promessa



Ainda bem que o voto é secreto, já pensou o eleitor ter que explicar por que não votou em determinado candidato?


Lembra aquele sonho de adolescência de querer ser mais bonita, quando a gente ia reunindo a boca de fulana de tal, a sobrancelha de outra estrela, os olhos de uma outra beldade e o cabelo de outra?


Pois é, estava ouvindo as promessas e os planos mirabolantes dos candidatos e fiz esse exercício. Juntei a promessa de um, reuni os delírios de um outro e fui arrumando o perfil da administração ideal. O resultado? Uma grande confusão.


Eu sei, eu sei que é necessário apresentar um objetivo de governo, mas precisa ser algo irrealizável? Não citarei aqui os exemplos por razões óbvias, mas peraí só porque tenho ouvido preciso ser castigada?


Os sons do 7 de setembro


Cedo, respirando o ar sem contaminação dos carros em movimento, escuto o barulho da água do café seguido do cheiro forte que alimenta a docilidade materna do lar. Com a boca ainda quente do líquido, rego o verde do quintal, conversando intimamente com as plantas coloridas por flores resistentes. A natureza é assim, o homem omisso e ela verdejando a esperança dos dias cinzas.

Na padaria, reclamo fartura. A sociedade mista se desfez e é flagrante a falta de produtos e de cuidados. Vou para a calçada dividir o sol maravilhoso e continuo regando as plantas, o exercício domingueiro que me dá prazer.

Depois, sento-me com o evangelho sobre as pernas, calo um pouco a mente, estico o ouvido para os passarinhos que dão graças a natureza. Olho para as nuvens que passam lentamente. A sensação é que se demoram para que percebamos a sua presença.

Não escuto tambores, muito menos cornetas e passos firmes numa marcha lembrando determinação. Quando menina, ia para avenida acompanhar os desfiles do sete de setembro. O som vai longe, mas a pátria continua. O meu país é cheinho de gente séria, trabalhadora, madrugadora como eu, esperançosa, resistente e teimosa.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...