No ônibus



Você, por favor, poderia - caso puder se virar - abotoar a minha blusa?


Como é?


Por favor...


O apelo foi feito por mim numa dessas viagens (quase divertidas) nos ônibus de Fortaleza. Usava uma blusa de malha, manga colada e casas mais largas para os botões, o que me provocou o constrangimento.


A bondosa mocinha virou-se com cuidado e espantada entendeu o pedido inusitado. Eu com um dos braços pendurados no vão de segurança e outro com os apetrechos femininos. Depois de prestar o favor, sorriu: andar de ônibus apertado é um grande sufoco, realmente.


Sorri aliviada e, mais uma vez, pronta para o mundo, usei o corpo como escudo e fui empurrando os guerreiros enfileirados, numa união harmoniosa de corpos e suores. Nem careta pode-se fazer por pura falta de espaço.


E o pensar buliçoso é o único que pode se espalhar. Só não pode se chatear olhando através das janelinhas o conforto de outros num banco de carro, completamente alheios aos viajores do coletivo.


O homem precisa, de vez em quando, comprimir-se, quem sabe, numa idéia revolucionária antiga de irmandade. Ninguém é mais irmão do que o usuário de ônibus.

Fingir ou mentir



Estava internatando em busca de poesias sertanejas para o programa Gonzagando. E nesse buscar perco-me no tempo para curtir de bom grado os escritos de pessoas, que vivem no mundo das letras, conquistando espaços no íntimo do ser, nem sempre pensando nos momentos deliciosos dos donos dos olhos entretidos, felizes.




Ensaiei leituras. Ainda bem que o autor não me ouvia. Acredito que me dei bem ao ler Guimarães Rosa, versos curtos e infinitamente belos. Mas foi em Fernando Pessoa que fechei questão. Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração.


Agora entendo a sintonia com o poeta. Ontem, cismei o pensar em torno da lealdade do meu sentir ao escrever neste espaço. Em muitos momentos, nem sei o que vai rolar no texto. Abro a caixa e começo. É a mente ditando ou obedecendo um ditado.



Acredito no poeta. E para mim, quem escreve poesia, se arrisca no verso verbal, escreve qualquer texto.

Tô bem aqui


Tô nem aí é a expressão mais usual para deixar em dúvida, aquele que espera uma resposta - de preferência positiva, clara e necessária - sobre alguma inquietação. Pois bem, já falei assim (na imaturidade) para questões problemáticas que me diziam respeito, mas que não atinava o alcance da mesma, com as respectivas consequências.


Hoje, mais amadurecida (sem estar amarela) digo que estou bem aqui para quem não tá nem aí para melhoria de vida. E quem quiser alegar que não é da minha conta, direi que é sim porque também pago o pato.


Não, não estou querendo briga e, muito menos, utilizando o espaço bacana para "falar" com alguém. É porque lembrei das expressões que jogamos no ar e nem sempre filtramos. São tantos spans que a língua solta.


Vejo e sinto hoje que é bom para nós mesmos estarmos bem por dentro de tudo com interesse não só de observador, mas de ator, participante ativo.


Por isso, estou bem aqui.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...