Pichando a arte da vida



Arte em São Paulo, autor desconhecido


Conjugar o verbo pichar pode ter conseqüências danosas com a lei. Não vou aqui pretender analisar os jovens que praticam o ato tido como vandalismo. A pichação agride o visual, destrói a arquitetura, suja as ruas, dá prejuízo aos cofres públicos e às pessoas físicas. Eu não quero o meu muro pichado. Mas, o que me chama atenção é quem está por trás. Quem segura a lata de spray.



Eu entendo - me perdoe quem não concordar - que pichar é chamar atenção, de fato, como diz a garota que está presa há mais de um mês por ter pichado as paredes do prédio da Bienal, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Ela fala sobre vazio. A gente sabe que há um enorme vazio que encastela e divide classes.



O vazio de Caroline, garota que libera a criatividade porque não quer privar-se dela, é um flagrante, que nem a Internet, com toda a sua comunicação democrática, consegue encolher. Quando garota, não se pichava, mas andava-se de moto, as lambretas temidas pelas famílias conservadoras. O cigarro pendurado no canto da boca caía bem no rosto do menino que deixava o pega moça na testa, bem ostentado.



Eu sempre vi a juventude como promessa de uma frondosa árvore: galhos em desalinhos, crescendo em busca de luz; frutos sem nenhuma timidez, jorrando num eterno desafio às forças da Natureza; tronco familiar necessário, vital; e as raízes, ah, as raízes... profundas, que apesar de alimentarem a vida, também alimentam os pesadelos.




Modelos e modas


Estava ouvindo, de novo, as músicas de Luiz Gonzaga. Que diferença a mulher pro homem tem? Gal Costa perguntava-lhe e a resposta destacava os cabelos no peito masculino. Aspirantes ao crescimento moral e científico, os dois representantes dos gêneros que na humanidade se confundem, fundem a cuca de qualquer um.

Cismo o pensar e lembro frases quase chulas para definirem homem e mulher e suas relações nem sempre pacíficas. Homem só serve para duas coisas: fazer raiva e falta. Mulher é como papel só serve com peso em cima. Acabo de recordar que na adolescência esses comentários ao mesmo tempo em que me arrancavam risos, deixava ao final, um certo azedume.

Naquela época em que todos sonham com alguém para fazer par, espera a alma gêmea que lhe sorria e preencha espaços vazios... era uma luta sem fim. Mamãe cobrava-me comportamento disciplinar, condizente com uma mocinha de família. Papai, por sua vez, aconselhava uma profissão segura para garantir sustento: O melhor marido de uma mulher é o emprego.

Cada um com sua vivência e roteiro de vida para a debutante. E por que eles não seriam o meu exemplo? É como aconselhar a minha filha Érica que largue o jornalismo. Como agir assim se as letras são o meu maior atrativo e os fatos que me ajudam a ser ator social?

Ingenuidade?


Estava conversando com o meu self a respeito da ingenuidade. Aquele tempo em que você acredita que bico de cegonha é para carregar pano branco com um bebê a bordo. Ou que papai Noel é um santo alegre e bonachão que entra no seu quarto deixa presentes, mas só se os lençóis não estiverem molhados.

Pensando o quanto se engana criança, o quanto se mente, é para ficar de orelha em pé com uma vontade danada de dizer que danação de criança é apenas uma resposta ao medo que se faz. Fui uma menina extremamente medrosa. O escuro, as folhas das árvores balançando ao vento, uma batida não identificada faziam o meu sangue pulsar com mais rapidez e os nervos tensos não me permitiam dormir.

Ser ingênuo, portanto, seria o trouxa? Não me aceito assim. Fui criança censurada, num tempo em que menino não ficava na sala para ouvir conversa de adultos; que não podia pedir mais um pedaço de bolo por ser falta de educação; e, muito menos, responder aos pais. Tinha que engolir até o choro. Que tipo de adulto é o resultado dessa pressão?

Pelo verde




Nem sempre quando alimentamos uma plantinha com água e alguns adubos indicados por botânicos estamos protegendo a natureza. Estava limpando a varanda e tentando salvar a pequena palmeira de uma gulosa lagarta. Nem titubiei quando dei início à caça com vontade.




Ao sacudir com vontade as palmas, a única lagarta cai e percebo com receio que já estava iniciando ali o processo de casulo. Ainda transparente a cobertura natural, a gulosinha parecia adormecida. Peguei com certo cuidado e depositei-a ao tronco da planta. Verifiquei se não ficaria molhada com a próxima rega.




Que lição aquela! Cismo o pensar de que nem sempre estou protegendo a Natureza, mas sim excluindo alguns elementos para cuidar do objeto do interesse. Imitando a minha filha que faz curso de Ikebana, acostumei-me a ter flores em casa, num arranjo bem do meu jeito. Sempre digo para as plantinhas enquanto a tesoura faz o seu serviço de poda: Você vai ficar linda, lá no meu jarro radiando energia.




Peço perdão a muitas agressões que provoquei e que ainda provoco. No entanto, uma das manias - espero que sirva para alguma coisa- sempre adoto plantinhas jogadas nas calçadas. Fico satisfeita quando crescem o dominam o espaço.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...