Com os calcanhares

Depois de levantar e esquecer que andar de quatro é coisa do passado, descubro depois de uma queda que me deixou de cama durante duas semanas contadas, que não sei caminhar. Ou melhor, pisar. Até então usava os dedões dos pés ao invés dos calcanhares. Quem disse que a gente não aprende a se levantar depois das quedas? 

O diabo é olhar pra trás e ver que o tempo todo poupava o sapato - que posso substituir - ao invés dos pés. A base que se movimenta e me leva para percorrer os ladrilhos de pisos  brilhantes dos sonhos da infância. Criança vive acesa hoje, porque eu sempre sonhei com algo melhor, numa fuga que nem Freud explica.

Andar como soldado em treinamento, pisando firme o calcanhar no chão, passando uma certeza de que sei onde piso? Sei não... Percebo agora, beirando as seis dezenas de vida terrena na atual roupagem que nada sei, que as pernas são para pular e meu transporte físico para situações diversas.

Interessante é saber que na fonte da sabedoria que fuço sem disfarçar o mal estar da ignorância, dou com os calcanhares nos sonhos embalados por uma inércia de atitudes outras e a certeza de que  até agora vivi no chute.

Surpresa!

Luis Fernando Verissimo tem um atrativo muito além do que o pensar apresenta ao ler seus textos. Interessante é essa memória maluca que tenho que não coordena os arquivos com nomes e datas. Estou me referindo a um dos momentos especiais do escritor: "Quando a gente acha que tem todas as respostas,
vem a vida e muda todas as perguntas ..."   

Às vezes penso que a vida é um belo pacote de presente. Daqueles que a gente se preocupa mais com a embalagem do que realmente com o que está sendo dado, ou melhor doado. O que mais dá vontade de fazer ao ver um belo pacote com papel especial e laços adornando? Desembrulhar, é claro! E, dependendo do momento, a ansiedade estraçalha o embrulho.

Vivo de instantes, ou pelo menos, percebo-me assim. Já recebi presentes que mereceram mais cuidados com o externo do que com o conteudo. O pacote foi desfeito com carinho, papel dobrado, laço refeito e guardado. Outro, papel amassado, jogado fora, conteudo usado intensamente. Noutro, o presente é para uma pessoa especial, inviolável, e foi para suas mãos, da forma que recebi.

Há ainda aquele outro que sinto não ser de coração e continua dentro do armário, ocupando espaço, sem uso, esquecido, incomodando no momento de uma melhor arrumação. E fico me perguntando por que diabo ainda guardo...

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...