Na rede


Não gosto de regras, mas quem vive sem elas? Portanto, nas festas de fim de ano, eu não faço balanço das atitudes tomadas nos 365 dias passados; não procuro no supermercado produtos “laites”; pouco me importa o que dizem os rótulos. 

Nada me tira o prazer de ficar o dia inteiro na cozinha no processo químico de transformar sabores. 

E também pouco me importa se alguém reclama do “sacrifício” que faço em trabalhar nas vésperas das ceias. O que vale a pena é  sentir o prazer do outro se deliciando. As gargalhadas, o melhor presente dos amigos e parentes...

Portanto, o balanço do ano é na minha rede, com quem quer ter o prazer de dividir comigo o espaço.É rever fotografias com rostos brilhantes de esperança, sorrisos prontos que só a amizade tempera e torna eternos.

O rádio

Eu tenho um sonho - sem querer parodiar Martin Luther King, ao anunciar sua meta de banir o preconceito racial - de publicar os meus escritos. Parei na contramão do pecúlio. 

Corria atrás como faz quem acredita que os sonhos estão distantes, num abrigo isolado por nós mesmos, como algo impossível. Só no dia anterior a este, despertei que as tais obras minhas já são publicadas diariamente. A edição é minha, assim com a cópia das ideias humanas. 
 
O rádio é a minha janela, que folheia, publica e distribui para leitores/ouvintes o que os meus dedos sem timidez desenrolam a teia sem mistérios da criação.

É o rádio a minha prateleira e todos os dias são de autógrafos, citados com a disciplina de quem me traduz.

Eu amo rádio!

 

Caras

Não, não lamento as perdas. Relembro que nada se perde. Tudo se ganha.

Vivi paixões intensas - daquelas que doem o corpo, agitam a pele, estremecem os dias e provocam noites insones.

Vivenciei calmarias, daquelas que relaxam a vontade de estar junto a alguem que te provoca milagres.

Já tive o cara e também fui cara, até onde os melindres da insensatez afasta o bem querer.

Os ganhos são a chance de estar plena seja em qual for a situação: na dor, na alegria, no trabalho de ser gente.

Mensagem

Sinto falta do bilhete. Papel pequeno, poucos escritos, com uma indomável força de aproximação. Um pedido de desculpa, um encontro marcado, a inspiração de sair correndo aos abraços, o telefone esperado. O toque que salta a emoção.

Papel esquecido no bolso, uma falsa promessa e uma angústia certa. O poder da letra manchada pelo tempo esquecida. Na história antiga, bem antes da velocidade da informação, quanta ansiedade encerrava.

O bilhete acalmou e inquietou. Lembro do primeiro que recebi. Nem sei bem quem foi o autor até hoje. Apenas informava que me observava e que gostava da minha maneira de ser. Surpreendida não entendia como despertar interesse em alguem quando a minha aparência era bem distante das meninas da moda. Mas era a minha voz que surtia efeitos, a postura de falar com tanta força.

Sim, impressionei um desconhecido que me sacudiu e, que mesmo acovardado, me tornou apaixonada.

Meus dedos

O cérebro pensa e me garante a sobrevivência, mas são as minhas mãos - especialmente os meus dedos que me sustentam. Teclam diariamente sobre o tablado feito para eles e a intimidade é tanta que os olhos não precisam a presteza e a velocidade. É uma dança ininterrupta, varando o tempo e contextualizando as letras necessárias para dar vez a informação.

Com os dedos aponto e sou apontada. Critico e sou criticada. Entrelaço amizades, dou sustento aos salões de beleza. O homem nem sempre entende a apreciação pelas unhas. São o out-doors dos dedos meus de todos os dias.

Com eles, chamo pessoas próximas e afasto os indesejados; faço cachos nos cabelos cúmplices dos ventos. Indico números, atos e até xingo.

As mãos sem eles, o que seriam? Aprendi a contar com a ajuda sempre pontual. Somo e diminuo. Atraio e afasto. Eu não sei falar sem eles. E quando os escondo em um bolso, mando mensagem de que não vale a pena expô-los.

Com os dedos rogo aos ceus clemência, afasto a maldade em cruz e, normalmente, são decisivos no momento do Não e do Sim.

A música sai deles pelas cordas, pelo sopro... A pintura mágica colorida! E nos pés, como andar sem eles? No encontro com amigos, marcam a prosa.

Na cozinha, nós somos parceiros nas delícias. Nos quititutes, o assombro agradável dos netos, que aprendem com as pequenas extremidades...

Amei, amo...

Eu queria um dia pensar nos amantes sem melancolia, sem nostalgias. Mas, esse sentir é tão punjante.

Sempre quis tanto estar com alguem. Mas, acho que só tive. Há uma diferença bipolar nisso tudo.

Estar é caminhar junto numa estrada, que pode ser longa dependendo dos saltos da paixão.

Acredito que domestiquei sentimentos. Lavei, passei, guardei, cuidei.

Fui uma gueixa nordestina, fazendo pirão que provei com muito sal. Noutros, banquetes doces fortificaram a esperança das mãos dadas. Interessante que, por mais que o corpo pedisse sofreguidão, a mão queria conforto. O entrelaçamento que não houve.

Fui encolhendo para novidades à proporção da passagem dos anos. Mas, desde cedo neguei a amplidão da aventura. Apenas escapulidas sociais na folga do juiz que sempre fui. Estou sempre em dívida comigo, dai a toga ser sempre tão presente.

E de que valeram os apelos íntimos, sussurros que nem o meu self ouviu?

O partir

Sempre quando alguem conhecido se vai, fico pensando sobre este ir, tão ilógico, tão arrasador.

Se eu pudesse, saberia a resposta para morrer doi?

Nada é mais temível do que o morrer profundo. E quantas vezes cheguei a desejar? Nem sei quantas... mas recuo diante desse nada que surpreende a minha vã indagação.

Nem adianta correr atrás das letras mediunicas, que trazem mensagens de acalanto. O partir sempre será assim. Essa presença de antes ocupada literalmente pela saudade, pelo querer pegar, tocar, sentir o calor. Quero você por perto nem que seja para encher o seu saco, eu diria. Egoisticamente dolorosa é a despedida.

Peço licença a palavra, para jogar sobre o precipício, que faz eco a vida que poderia ser feliz. Toda partida segmenta a alma, que se subtrai na alegria e se expande na reflexão.

Sinceramente, quero ver dentro de mim a expectativa verde da permanência vital, o auge da tolerância finita ao que ainda não estou pronta para compreender.

Um culto ao passado

Eu gosto de viajar no tempo, dá uma ré para a marcha não quebrar com os desencantos. Sim, o que seria desse amor desconhecido nosso e tão sentido se não fosse o drama.

Estou no século XIX e me encontro com os embriagados pelo álcool e os ébrios românticos, que insultam a líbido, olhando para os pálidos pés das damas enchapeladas.

Rostos pálidos, cheios de dor e suspiros apertados em espartilhos; musas inspiradoras dos amassos dos muros. Sim! àquela época os amassos eram torturas e as menininhas de hoje nos "ficas" da vida não conhecem o sabor do beijo roubado, a ânsia do encontro às escondidas.

Ah, o romantismo que via na mulher apenas o espírito criativo e sonhador. A atlética Iracema de José de Alencar,  bem que poderia ser o ícone das meninas malhadas que superlotam academias. Casimiro de Abreu nos ensinaria que a infância é uma brincadeira de gente grande,que se perde hoje.

Ah, a adolescência (in) feliz minha. Quantos suspiros joguei fora, o corpo trêmulo no escuro da noite, num quarto proibido. Eu queria morrer assim, na tuberculose romântica dos poetas.

Mas, também amava os quintais como ainda hoje. O som dos pássaros, o passeio das folhas na paisagem verde dos meus sonhos.

Não pelo sobrenome, mas Casimiro de Abreu é um dos meus preferidos e me dá a sensação das tranças enormes descansarem outra vez nas costas:
 Se eu tenho de morrer na flor dos anos
         Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
         Cantar o sabiá!

Caçadora

As pessoas que gostam de mim tem razões para isso. E as que não gostam também. Não sou uma conquista fácil e, muito menos, uma conquistadora.

Acredito na graça da amizade, sem cobranças, sem exigências impossíveis. É fácil largar, difícil é ficar sem triturar o perfil do outro.

Não sou modeladora e, muito menos, massa de modelagem. Uma estatueta, uma obra de arte para ser apreciada por um tempo, fadada a poeira.

Apenas uma caçadora do conhecimento próprio.


Não, mesmo

Eu não quero ser normal.

Isso seria seguir à risca a opinião de alguns.

O pensar flui assim como as conveniências.

Eu não sou o tijolo que falta na parede. Muito menos, o cimento para remendar a marca dos pregos dos quadros, que guardavam imagens de mim. Ou a tinta que descasca ao toque dos dedos do artista ausente.

Eu apenas quero ser a minha melhor companhia. Portanto, os conceitos devem ser guardados. Quem sabe, um dia talvez, no resguardo das horas, eu não me debruce sobre eles e num instante, eu me surpreenda com um aplauso.


Entardecer da vida

As coisas de ontem dão saudade porque eu só pensava no amanhã, que é hoje. E faço grande rebuliço nos anzois da esperança na pesca de algo surpreendente.

Nada é mais temível do que a velhice - porque lembra esquecimento. A gente esquece de sorrir, de comer, de desejar e quando isso ocorre alguem está sempre de guarda para nos lembrar, que o único balanço na rede da vida, é tangido por um pé cansado, impulsionado por uma perna, que pesa.

Sei que estarei morrendo quando deixar de querer. Só que  o poço dos pedidos continua aberto com fundo encoberto de moedas de melhoras.

Música

A música é uma viagem sem custos.

É mão que pressiona o relógio da vida.

É a centelha viva de um amor na saudade.

É um passeio pelos cachos dos anos vividos a fio...

É a nave espacial que o homem recriou para mostrar que é sensível.

É a inspiração divina que a alma se identifica.

Costumo entender que conheço as pessoas por suas escolhas musicais.

Há canções que as letras sou eu com a minha história sentenciada a um término.

Na paz das asas

A poesia é uma forma agradável de dizer o que vai na alma. Por isso, permito-me ocupar este espaço e dedilhar os sentimentos profundos, que ressurgem na superficie da letra.

Vai longe a pretensão da compreensão que, promete o meu rigor sobre as postagens do blog. Aqui sou que nem borboleta: livre, leve e solta num espaço azul. Sem esquecer a fragilidade das asas  coloridas e com a mente estreita na pequenez reduta.

Se busco o perfume da calmaria, é para alimentar a ilusão de que posso voar sem muito esforço. Uma vez presa, a realidade- mulher aguilhotina a lepidez da alma. Sim, o corpo aquece, mas detém a inspiração.

Iso(lados)


Eu já tive lados, que foram mais de quatro. No enquadramento fui triangular: eu, você e os outros, que falaram mais, que ditaram mais.

Os meus lados - arredondados pela lâmina do passado -  querem a circunferência da vida que retorna.

Eu já tive partes, que foram segmentos inventados, traduzidos por equívocos. O todo que se perde num monte das coisinhas, que me oferecem.

Eu já tive arranjos, que não foram flores, apenas vasos.

Pelos se(s) da vida....


Se me vir chorando. Deixe o desaguar sem pressa de ficar. 

Se me vir rindo imagina o que pode me tornar feliz e participa desse colorido momento. 

Se me vir gargalhar, faz eco, revira-se pelo avesso da dor.

Se me vir calada, não me insulta a palavra pensada e se me vir tagarelando, empresta o ouvir e olha-me nos olhos.

Se me vir aflita, serena o teu pensar. 

Se sentir calor no meu olhar, refugia-te. É o abraço que há tanto estendo em tua direção.

A propósito de Florbela Espanca...

Eu sempre quis amar e este amor me foi apresentado de variadas formas, matizes.

Cinzas para não prenunciar a idade primaveril e vermelho sangue da paixão que arrebata!

Amarelo, prenúncio de  risco de afogamento na ânsia.

Dores doridas sem oxigênio, implodindo cenas desagradáveis, sem paternidade, mas com muitos autores.

Assinaturas sem crédito.

A sinceridade convém?

A pergunta é simples: você costuma mentir? Dois verbos para um só sujeito não pode ter resposta imediata, justo que a complexidade faz parte do meu cérebro, compõe e confunde o pensar. Se retirar pelo menos, um dos verbos, a exemplo de você mente, poderia alargar a saia justa, devolvendo o questionamento: em que momento?

Já li por ai que a mentira é a verdade que se esconde e outras baboseiras. Na verdade, mentir é um grito de socorro expresso na vontade de dizer o que se sente. Confesso: eu minto, mas não sou mentirosa. Pode tudo ser uma grande conveniência que, por similitude da ação, um acordo social. Não mentir é ser mais sincero?

Sinceramente...

Infinitude

A delicadeza exige de mim uma compreensão além do desprendimento animal. Sempre me flagro um pouco atenta, um pouco descuidada da forma de me ver mulher. A princípio, tudo colorido ou dolorido, porque sair do preto e branco é um aborto dramático para adolescente.

Na maturidade... ah ser madura, como é misteriosa essa passagem! Nem sempre há bilhetes suficientes para a viagem em primeira classe. Sobrevivência, palavra de ordem, que sufoca os arrepios da arrogante interpretação do que é ser ampla.

Ser delicada é uma exigência que me afeta diariamente por medo de perder a cor, as petálas das vivências e o espinho do talo da experiência.  Não é uma questão de rima. As flores murcham,  os espinhos, não.

A suavidade de um pensamento alegre me atrai, da mesma forma como sou arrebatada para um mergulho profundo em busca do rescaldo da dor. Não sou suave, nem violenta. Sou explosão, numa galáxia a ser descoberta ainda.


Quadro

No mundo das artes quero ser o pincel com a liberdade de correr pela tela espalhando cores vivas!

Quero fotografar o amanhã do observador, que não vai perceber a ideia lançada na essência do recriador.

Quero vencer o tempo que amarela a lembrança. Sim, porque o quadro permanece apesar das traças do esquecimento.

Quero manchar a roupa do artista com marcas perpétuas que o solvente apenas faz brilhar.

Quero chá

Uma xícara de chá sempre lembra calmaria, com o olhar sem muita pretensão para a fumaça que se esvai, prometendo um gole quentinho. Nem  sempre vou atrás do sabor, só o calor importa neste momento. Aos poucos, o corpo aquece a partir da glote.

Quando garota viajava no tempo dando ouvidos ao som dos goles aflitos. Isso porque quando criança a gente tem sempre pressa para que o alimento faça a sua função.

Depois, uma mesa (não importa o tamanho), um livro aberto, canetas sem tampas numa aflita vontade de  espalhar a tinta sobre o papel em forma de pensamento. A fumaça é o transporte para uma viagem sem retorno.

O pensar que extrapola o papel encontra destino num olhar descuidado. Nem tudo que se deita em folhas levanta ideias.

A xícara foi esquecida e o vento arrasta as folhas escritas sem piedade, que alçam voo desatinado e o olhar fica preso à distância de que nada vale a corrida do que se foi.

Fotografia

A fotografia guardada numa caixa esquecida, continua retendo o flagrante da vida real, que impacta ao vê-la agora.

Estranho o sabor do tempo remoto. É um paladar amarelo de uma fruta passada, amadurecida sem sementes.

É como se resumisse a tempestade de sentimentos, que me acompanha sem proteção do guarda chuva do bom senso. As imagens -feito estátua -nem lembram a obra do artista.

Devolver ao fundo da gaveta é despedida para um até breve. Reter no colorido do dia atual o branco e preto de um instântaneo reto, num simbólico gesto de resignação. O tempo não pára e nem eu.

Biscoito


O ensinamento, diário muitas vezes oculto, fica próximo ao peito. O coração não diz porque o cérebro ocupado não escuta. E até mesmo o sentido do tato é relegado.

Desejo que os meus amores sejam como o biscoito, que caiu no bolso da minha camisa enquanto tentava matar a fome. Escorregou da mão e sumiu de vista. Olhei para baixo e apenas dei com o azul do carpete.

Horas depois, ao ter o corpo trêmulo de dor solidária pela morte do pai de uma amiga, toquei sem querer o lado esquerdo e senti algo mais firme. Estranhei, abri o orifício do bolso e lá estava o biscoito, que mesmo ignorado permanecia próximo a mim. Se você me ama, seja o meu biscoito, amigo do peito.

Favorito

Quando eu amo coloco o meu amor no topo da lista dos favoritos. Nem penso em deletar, bloquear e, muito menos, ficar off line. Evito novos contatos - em todos os sentidos.

Filtro as noias e o spam das dúvida. Cesso o cursor para evitar caraminholas no meu rico arquivo de experiências.

Esqueço todas as senhas que me levam ao desgosto. Documento novos conteudos, novas mídias.  Costumo rever tags antigas, que recebem novos aplicativos.

O virtual é tão real quanto as cartas de amantes, que demoravam meses atravessando oceanos, amarelando com a saudade.


Sem sentido

Eu gosto de ladrilhos, com seus brilhos, o tamanho, tão pequenos e tão lúcidos! São palavras que se encontram num verso para destoar da poesia.

Ladrilhar é pular sobre pedras coloridas da mente que explode muros  de artes. Fazer sentido tem sido a meta humana, quando um simples olhar pra chinelos largados embaixo de uma rede, me faz lançar suspiros muito mais do que qualquer objetivo.

A gente quer gente, mas...

Os salões de beleza são os redutos para confraternização. Já tive inúmeras conversas com milhares de cabeças tingidas. Não morro de amores pelos estabelecimentos que só busco pra cortar o cabelo. Em defesa do meu dinheirinho, pinto os brancos e faço pés e mãos em casa.

Acontece, que no último sábado, tive uma oportunidade bem diferente no salão próximo à minha casa. Por ser muito cedo, erámos apenas dois clientes: eu querendo ficar mais bonitinha e um professor aposentado. Depois do tradicional bom dia, confesso que fiquei muito a vontade, com aquele monte de "piranhas" prendendo os meu cabelos, cara sem maquiagem e ele me olhando, puxando conversa.

Aproveitando a deixa de estar tão desarrumada, ataquei na maior sinceridade, já que falávamos sobre antigos relacionamentos: O que você não mais faria por uma mulher? E ele, depois de uma certa demora: responder às cobranças, do tipo onde estava, a que horas e com quem? Ora, respondi. A pessoa quando estar alguem quer estar perto!

Na base da simbologia eu não espremeria mais laranjas, sem ligar o espremedor, para não acordar o dorminhoco. Acredita que eu fazia isso? E ele, sorrindo entendeu, curtindo a expressão "reincidência" para nós que nos apaixonamos e dividimos teto com outra pessoa mais de uma vez, que hoje incomoda se não baixar a tampa do sanitário depois do uso; que transtorna se não dá notícia - naquela base de nada de cobranças - e que aporrinha o meu mais novo amigo professor, se a moça pernoitada, não lavar as louças do café.

Agora, vejo com muita clareza, que depois de um certo tempo sozinha, a gente começa a se sentir autosuficiente. Eu, desde cedo aprendi a trocar lâmpadas, o botijão de gás, pintar paredes, e o principal, garantir sustento sem pensão. Não me sinto orgulhosa pra ser franca. Eu ainda prefiro um par de pés coçando os meus numa boa rede.

Certas pessoas

A relação com certas pessoas é como aquele livro, que apenas deitei um olhar sem curiosidades, por não prometer surpresas. A vida precisa desses estímulos.

É como um corte novo no cabelo, uma cor mais clara, mesmo sabendo que o branco vai lembrar as pratas, que apostei no caminho nem sempre tortuoso, nem sempre reto.

A intimidade com certas pessoas não passa do quarto, porque ao chegar à sala é como se fosse uma despedida de alguem, que te oferece algo, que você sabe não necessitar.


A despedida de certas pessoas é como um naufragar na melodiosa saudade dos que acreditam, que amor precisa doer. Com outras, é como ganhar um par de asas. Exige esforços, mas se consegue continuar respirando, oferecer ao vento a sorte de um espaço infindável a conquistar.

Fantasias -

Estou com inscrições abertas para o edital que a vida ensina. Não há restrição para os candidatos que se habilitem a conviver com as minhas gargalhadas; noias, neuras, liseira, otimismo, fantasias.... ah! sem elas, o que seriam das minhas manhã coloridas?

Há quem sonhe à noite, eu prefiro imaginar paisagens em dias claros, ventilados e absolutamente promissores, com o sol no alto, sabedor de sua fundamental participação na vida. O sonho é a realidade latente, como semente louca por um solo fértil (mente feminina) para explodir.

A noite prefiro caminhar, pés descalços na languidão do corpo cansado, cheiinho de vitalidade, apesar do morno movimento. No entardecer, agarro-me às horas do chá britânico. Aposso-me da ideia de que a escuridão noturna não se dissolve com a luz do homem.

Perdas e ganhos

Costumava ouvir dos mais sábios que quem não sabe perder, não sabe ganhar. Cismando o pensar agora, vejo a contabilidade da vida. Foram muitas conquistas e incluo as perdas - ganhos temporários. Na folha contábil, eis a lição ouvida nos primórdios da adolescência.

A primeira vez que ouvi a tal frase, foi numa disputa de doces. Lá em casa, eu sempre perdia para minha irmã, a preferida da mamãe. Não me queixo agora, mesmo porque nunca ficava sem doces - ela azedava e  deixava de lado a porção que lhe cabia - e que eu comia com muito gosto. Só que depois vinha o amargo que o açúcar em abundância traz. Ou seja, eu sorvia o doce que não era para mim.

Em outras oportunidades, o lema martelava-me. No trabalho, era preciso abrir espaço para outros, levando comigo a vivência e o know- how. Na família, os filhos saem de casa e retornam sempre com bracinhos carinhosos e sorrisos de promessa. São os netos que também crescem e dilatam o viver. 

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...