Fortaleza beira os 286 anos de fundação e eu todos os dias, como se criança ainda fosse, acordo ouvindo os galos de quintais. Ficaria infantilmente feliz se os bichinhos - creio que sejam três - não começassem a cantar às quatro horas da madrugada. Levanto-me às cinco horas. A natureza - graças a Deus - não muda porque o homem decide. Já pensou se assim fosse?
Voltando aos galos, enquanto me remexo e busco auxílio nos travesseiros, já foram apedrejados, já viraram ensopados. Fico cismando o pensar, diante de um bom prato de pirão de galo cozido na panela de pressão. Chego a sentir o cheiro e o barulho do apito da panela, anunciando que em breve a fome será saciada.
Imune ao meu desejo raivoso, eles continuam firmes e pelo canto, acredito que um deles é bem pequeno. Mas, quem disse que isso importa? O galo segue o instinto de bravador das madrugadas. O apito do trem do tempo, cujo ceu se abre para a luz, informando que logo mais, a cidade estará completamente acordada.
Abro a janela e peço aos ceus por mais um dia de muito trabalho regado da boa luz divina. O coro entoado pelos emplumados continua, agora fortalecidos pelos passarinhos. As árvores dos quintais vizinhos alimentam os pássaros, que agradecem suavemente.
Quanto a mim, já pronta e com bolsa na mão, fecho a janela, despeço-me do quintal verde, feliz por ser dessa cidade, que cresceu exorbitantemente, mas que tem moradores (alguma boa dona de casa), que alimentam os galos que me acordarão amanhã.
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