Raimundin

Hoje, o meu pai, Raimundo Rodrigues de Abreu, estaria completando 90 anos. Eu não tenho só a sua lembrança física, tenho o aprendizado de gente séria. Foi sempre tão simples, tão carinhoso e sempre me compreendeu tanto. Nem precisava falar e ele já recebia o recado.

Quantas vezes, o gênio explosivo meu açoitou o seu olhar sossegado... Em resposta, balançava as pernas na cadeira, sacudia um pouco o corpo e com voz calma "o que foi que te mordeu hoje?" É falta de dinheiro? Quando eu ganhar na loteria, dou tudo prá você." De mim, a gargalhada incrédula das chances com os números, mas uma vez quebrado "gelo", a felicidade de viver tão intimamente com alguem que sempre me respeitou.

Raimundin como chamava - e ele deixava - não media esforços para participar da minha rotina. Rasgava elogios com o meu trabalho; xingava quando alguem me aborrecia "mas, pai, você nem conhece a pessoa" chamava sua atenção, e ele "mas conheço você."

Eu tive a grande sorte de conhecer e conviver com meu pai. O legado é tamanho, que a saudade não vai cobri-lo.

Enjoei, tô dispensando...

Eu já estou de saco cheio com os convites midiáticos de ter corpo definido.

Se for para me submeter ao bisturi para retirar gorduras(resultado de anos de comilança boa em companhia de amigos mil)...

Esvaziar-me das bebidas geladas que garantiram(e garantem) gargalhadas,  conversas jogadas fora e também aconchego familiar...

Para caber no número 38(qual o problema com os quarentas?);  carregar pesos num frenesi para endurecer músculos que não resistem ao tempo e se penduram embaixo dos meus braços.

Qual é o problema de envelhecer, ficar flácida? De que adianta cortar tiras e mais tiras de pele, esticar-me toda, entupir o rosto de germes(botox), isso tudo pra atender quem eu não conheço e resolveu ditar-me modos de vida?

Enjoei! Nunca fui magricela, tive o meu tempo de gostosa e, confesso, nada conferi de melhoria pessoal com isso. Hoje estou pra ser vista muito além do que a calça jeans esconde ou realça, dependendo de quem me vê.

A propósito, nem sempre quem me olha, me vê, de fato.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...