O meu tempo de se avexar já passou. Foi o que ele disse olhando-me com atenção, sem que eu me desse conta da corrida do meu tempo.
A sua calma acompanhava o ritmo quase sereno do movimento das ondas do mar naquela manhã de sol que prometia dia mais claro. Não tão esplendor da vida prometida surgida na infância. Cá comigo desviava atenção da minha rotina de trabalho, deitando o olhar naquelas mãos calejadas curtidas pelo sol e Deus sabe lá de quantos anos empurrando o carrinho de tapioca.
Não, ele não estava duvidando de mim, quando lhe falei que deixara a bolsa no carro com o dinheiro que lhe devia do lanche tão oportuno. Fiquei cismando o quanto deveria saber aquele homem tão simples. Quantas gargalhadas ele já teria dado nos encontros com os amigos? Quantas promessas ele alimentou durante suas caminhadas. Estaria ele tão impregnado pelo prazer da natureza diante daquele mar enorme que lhe oferecia tantas possibilidades?
Saí com uma pauta e voltei com outra história. Uma experiência de vida tocada em mim por uma simples frase. Ele nem se preocupou com o meu pensar. Depois que recebeu os trocados pelo seu produto, despediu-se com um olhar vago mas com muita conversa interior. Deixou-me tão empolgada com a arte de viver. No entanto, fiquei ali caminhando com a mente acompanhando o seu distanciamento com os passos de quem não mais se avexa.
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