Às amigas

Hoje quero falar sobre as amigas que enriquecem e enriqueceram os meus dias. Muitas estão no arquivo da memória. Chego a sentir saudades da presença física, dos papos olho no olho; das mãos que tanto socorreram e das quais perdi contato.

Confesso que já experimentei um misto de despeito e de mágoa pela falta de notícias e da exclusão de reuniões.

Certa feita, sobressaltava-me o receio de perdê-las. No entanto, com o vigor que mantenho o otimismo, carrego as forças para mantê-las vivas. Não se apaga o passado que nos aquece as lembranças.

A vivência não se resume a isso. São tijolos da construção do que eu me torno. Portanto, na minha vida não existe a figura da ex-amiga. Existe aquela grande construtora de momentos edificadores. Sinto-me feliz pelos infindáveis momentos que experimentei.

Acredito que as pessoas se ajustam a nós e acompanham o crescimento. A amizade é um grande celeiro que acolhe a semente da crença, rega a esperança, fortalece a raiz do amor e frutifica a essência da vida. Nesse sentido serei uma porta aberta acompanhada de muita gratidão.


Viuvez



Resultado de imagem para janela escuroFicou ali quedada a observar o quarto vazio. 

Nunca um lugar foi tão preenchido de saudade. Achava esquisito não ouvir a resposta da conversa contínua que tinham. 

O sorriso na foto que não será renovado e as mãos quentes que aliviavam o frio nos pés. A solidão chegou sem convites e não se obriga a retirada. A morte tem esse poder de trancar a vida.

A tranca



Resultado de imagem para ferrolhoTanto tempo sem ter o que fazer olhando a porta que desejou ser uma coisa: o ferrolho. Mesmo preso se contentaria em ser o que tranca e o que abre. Porque também não seria solitário. A fechadura lhe faria companhia, já que reclama tanto a ausência da chave, por sua vez tão perdida. Ferrolho de cor escura de tão massageado por mãos.

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Ela queria encontrar uma forma de manifestar o seu desejo de brilhar. Vestiu dourado dos pés a cabeça. Chamou atenção até de quem não queria e uma crítica fatal “amiga você está tão démodé”. Com os olhos fuzilou a interlocutora, que lhe devolveu olhar brilhante. Mude de roupa. Você já brilha com o que tem, sugeriu. Despiu-se e resignada confiou.

Tantas outras

Resultado de imagem para sou tantasNa infância eu fui apenas uma menina.

Na adolescência, uma explosão confusa da garotinha assustada.

Na fase adulta, me perdi. Eram tantas referências...

Hoje, na maturidade encontro a menina que saltita desafiando as teias inúmeras que a vida oferece;

Sou a mocinha deslumbrada com a primeira paixão;

Sou a mãe aflita, insone, repartida;

Sou a madura, regando o verde que o tempo não amarela.

A poda necessária

Resultado de imagemEstava aqui contando nos dedos os momentos em que deixei a tristeza comandar a direção da vida. Foram poucos porque sempre achei atalhos verdejantes. Até mesmo quando tudo parecia desabar, fiquei que nem planta vigorosa em jarro quebrado. Raízes à mostra com pouco substrato, mas resistindo apesar das vicissitudes.

Amo plantas, mas nem sempre sei lidar com elas, assim como o traçar do rumo da minha existência. Há podas para garantir o crescimento virtuoso, assim como aparamos as pontas dos cabelos. Esses cortes necessários doem, marcam e as cicatrizes são ostentadas para o enfado nosso.

Uma poda correta permite o multiplicar de flores cheirosas e coloridas e nessa perseguição sigo tesourando sonhos, formatando realidades e afugentando ilusões.

A dor ensina a gemer


Minha mãe costumava dizer que a dor ensina a gemer. O gemido seria um mantra solicitando alívio.Pode até não ser considerado analgésico, mas já experimentei o murmúrio acompanhado de lágrimas. Passei a escutar a dor – ah, sim ela tem som – convocando a energia presente pelo benefício da calma. E assim adormeci e sonhei que estava curada.


Um bálsamo tomou conta do corpo dolorido e a alma feliz saiu pululando no espaço. Não sei se a experiência própria já fez outros protagonistas. Luiz Gonzaga, o grande mestre da sanfona, aboiava – diziam – para libertar-se das dores provocadas pela osteoporose que o consumia.

Gonzaga não foi vaqueiro, mas cantou a aventura de ser, assim como a faina dos nordestinos pela sobrevivência. Hoje, a dor tem como causa o medo: pela vida, pela família. A dor é mais moral do que física, sendo assim, nem a medicina e muito menos os medicamentos irão curá-la.

No entanto, o remédio nós sabemos o nome criado pela nossa invenção. Tem quatro letras apenas, um resumo para algo tão grandioso que nos foge a compreensão: amor.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...