A respeito da dor


Quando alguém desperta, só eu sinto. E mesmo que o outro queira compreender, não será suficiente para sentir.


O melhor da dor é que passa, assim como a euforia, o entusiasmo, o grito do gol e o susto.


Só para não dizer que escrevi antes de destacar texto de autoria de Érica Azevedo, minha própria filha, como costuma dizer, intitulado O meu consolo


Não é como se diria em alguns casos de tragédia: "Eu sei como você se
sente". Nesse caso, em especial, não dá para saber. A tragédia com o menino João
Hélio Fernandes - que morreu na última quarta-feira, 7, no Rio de Janeiro,
arrastado pelo cinto de segurança, do lado de fora do carro da mãe, guiado por
assaltantes - é abominável demais para se ter qualquer noção da dor que os pais
dessa jovem criança sentem ao lembrar do episódio. Episódio este, como reportou
a Imprensa, (até então), "uma quarta-feira normal".



Lia a matéria estarrecida, amedrontada, exceto por um detalhe, que me deu
conforto e me fez (mais ainda) acreditar que o menino tão querido daquela
família, está bem, onde estiver agora. Pouco antes do momento do assalto, eis
que a mãe de João Hélio, mais os dois filhos, voltava de um centro espírita.
Espírita ou não, a comerciante Rosa Fernandes acredita (ou busca acreditar) numa
existência muito além desta e, talvez, numa lei, divina, que governa este
planeta.



Esse foi o meu consolo. Porque, apesar de toda a dor que a família de João
Hélio possa sentir agora, Rosa sabe, no fundo, que Deus vela por seu menino.
Conhecimento nenhum, desta vida, explicaria o porquê de uma morte tão violenta -
a lembrar o saldo de uma guerra impensada, irrefletida e violenta, que sai
massacrando tudo e todos.



A Doutrina dos Espíritos explicaria, decerto, que as ações deste mundo são
resultado de situações vividas anteriormente e que não há crime sem punição. E
que, ainda, não há culpa que se estenda pela eternidade, ou seja, não há delito,
nem algoz, que não mereça perdão, por pior que tenha sido o crime.



É certo, então, que esta tragédia é motivo para reforçar a fé dos pais de
João Hélio e não para alimentar vingança. Motivo também para trabalhar pela
modificação desse quadro de caos que assola o País, que perdeu o referencial de
segurança. Ninguém está mais seguro em lugar nenhum. Somente, quando se reporta
à crença, ao lugarzinho na consciência, que ascende para o velar de uma força
muito superior a nós todos e que nos espera chegar ao dia em que não mais nos
violentaremos e somente colheremos os frutos do amor plantado pelas esferas.

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