O gosto da mulher




A Am do Povo foi a rádio mais feminina de todas. Já teve a minha cara, da Ian Gomes, da Carmem Lúcia Dummar, da Rita Célia Faheina, da Lígia Matta, da Sílvia Goes, da Jaqueline Costa, da Socorro Ribeiro, da Marilena Lima, da Angélica Martins, da Rejane Limaverde, da Socorro França, da Fátima Vilanova, da Maria Luiza Fontenelle, da Débora Lima, e hoje tem a cara da Maryllenne Freitas, da Tina Holanda e da Adísia Sá.




A emissora continua fazendo companhia a todas mulheres que acreditam em dias melhores, incluindo você.










Da buchada à barra de cereal


Eu costumo agora ficar observando uma pessoa em particular: euzinha. Como mudei! Eu sabia que um dia cresceria, mas assim, tão decidida, tão assumida... que coisa boa que estou fazendo pra mim mesma.


Até a refeição ganhou mais qualidade. Sem querer desprezar os bons temperos da terra, flagro-me comendo cereais enriquecidos com fibras. E não é pra enganar o estômago. Curto com essa mudança, eu ex-comedora de buchadas, não é engraçado?






Na rotina puxada de trabalhar, remando contra o motor do tempo, naquele mar de ínformações em que navegávamos na Am do Povo, costumávamos correr para o Vicente, comer miudo de frango ensopadinho e panelada, acompanhada de uma boa cerveja gelada.

Para essa escapada também tinhamos o relógio tirano, só que agora, mais ameno: 12h15min de sábado lá estávamos reunidos no bar da Joaquim Magalhães. Tanto fazia ter dinheiro como não. Pendura aí Vicente e reserva do táxi porque estou sem carona. Na cara de pau e ele atendia prontamente.

A turma da Am do Povo merecia toda atenção e fazíamos um barulho inconfundível. Aliás, o bom humor reunia todos. As noites de sexta também. A primeira parada, Vicente e depois aproveitar as cortesias para os shows das casas noturnas.

Foi lá no Vicente que vivemos os nossos melhores momentos de festas. Foi nesse reduto que também nos solidarizamos com colegas que hoje fazem barulho no outro plano, como Laerte Alves, o sorriso mais aberto e mais amigo que tivemos oportunidade de dividir.






Tentando ser companheira

Quem disse que repórter não morre de medo de errar no ar? E ao vivo? Estou lembrando das primeiras reportagens para a rádio Am do Povo. Foi no programa da tarde apresentado por Paulo Oliveira, em plena terça-feira de Carnaval, passando um
flash-resumo das atividades do Juizado da Infância. Que experiência.
De repente, alguém segura com força o microfone e passa a narrar uma história triste de uma agressão que o filho sofreu. Não deu para finalizar a matéria porque fomos impedidas de continuar.

A direção do local entendeu que a matéria feria os princípios da confiança que
havia me dado. Tive de largar o microfone e saí para uma conversa escoltada por um gentil bombeiro. Fiquei cerca de uma hora no gabinete, numa poltrona fofa, que
me deixava mais funda do que estava.

Imagino agora, o que poderia ter ocorrido. Paulo me perguntou, antes de sair
do ar, o que estava acontecendo. Não sei, respondi e engolindo a frustração própria dos iniciantes.

Claro que houve solidariedade dos colegas de rádio. Aliás, quando o assunto
é responder qualquer embargo, nós somos imediatistas. Sem flashs sobre o
tema por 45 minutos, sem dúvida foi um imenso buraco.

Mas, o que realmente me deixou marcas foi tomar consciência da vida de
inúmeros jovens, sem o conforto de uma casa, sem comida,cujos corpos, ao
invés de alimentos, apenas recebiam drogas químicas.

Como mãe me senti impotente. É como já disse aqui, a dependência química de
jovens me leva às lágrimas. Foi no ano de 1983, quando a inflação atingia os 200% e a delinqüência juvenil ultrapassava o limite do tolerável.

Quase sexi (genária)


Hoje estou completando 52 anos na atual existência terrena. Desses, 18 passei na Am do Povo. Vi e vivi momentos que me fizeram crescer e tornaram a pessoa que sou hoje.


Por muito tempo, a ansiedade foi a minha companheira assídua, igual ao sol durante o verão. Só que diferente da estrela que nos vivifica, sombreava-me os dias. Por conta disso, nem sempre aqueles 18 anos foram para bater palmas.


Mas, agradeço com todo o sentimento enriquecido na memória aos meus companheiros de trabalho. Todos foram e são especiais e estiveram comigo até quando discordávamos. A equipe da rádio Am do Povo era tão intrínseca e cumpria tão bem o compromisso de atividades, que quando um se atrasava, o que estava para deixar o plantão não reclamava do toco. Iniciava o trabalho do que estava para chegar.


Há pouco, um amigo telefonou para dizer o quanto se sentia bem por me ter como amiga. Existe algo melhor do que isso? Chamei a atenção de Francisco José pela gargalhada. Ele trabalhava no Jornal O Povo e nos encontrávamos no momento do lanche. Ele falou sobre a distância física vencida pela sintonia da amizade.


Não temos companheiros de momentos, mas companhias. Os amigos estão sempre conosco pelo que nos representam. Eu tenho um amigo, que está sempre me acompanhando e me conhece muito por conta da sua senbilidade magnífica. Leitor do blog, Nonato Albuquerque participa da minha vida desde a faculdade.


Quando saí da rádio, há sete anos, não recebi recados do pessoal de lá. Porque os meu amigos, a maioria, já estava em outras redações e continuamos nos encontrando. Peço perdão aos outros amigos por não citar os nomes, que irei, paulatinamente personalizando o tema do mês, que é a Am do Povo.


Costumo brincar que a escola não me dispensou. Na realidade, conquistada a maioridade, fui estimulada a procurar outros caminhos.


Por isso, sempre concordo com Ivan Lins: "... a vida pode ser maravilhosa..."




Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...