Lembro que não gostava, ou melhor não entendia, o seu jeito largadão, braços soltos, ocupando tanto espaço, dando vida a tanta letras que nada me diziam. Também, eu não era mais boba porque não sabia o quanto. Tempos passados, não é? Depois, paulatinamente, fui me sentindo tocada - ou seria, me tocando mesmo ?- por uma das mais belas vozes e interprétes deste país gostoso de se viver e de pertencer.
Elis Regina me arrancou lágrimas escondida atrás da porta, num sentimento enorme de perda. Que me fez dançar, imitando os seus gestos, num upa-upa formidável. Que também me deixou boquiaberta até hoje com a sua súbita saída.
Não lamento sua partida. Todos nós vivemos num ir e vir infinito, mas fazem falta no ar, na mídia, pessoas talentosas como ela. E são tantas vozes desequilibradas agredindo as pregas vocais. Fico me perguntando como se pode ocupar tanto espaço com tanta bobagem e mau gosto, enquanto ainda somos berços de Chico Buarque, Gal Costa, Zizi Possi, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Caetano Veloso e tantos outros artistas de talento.
Ok, eu sei que o espaço é democrático, mas o meu ouvido, nem sempre.
Elis Regina, muita luz.
Imagem e obra de Paulo Gonçalo (http://www.paulogoncalo.com)