Fortaleza


Na religião o homem deposita fé e conquista dias serenos. Esta é a promessa de vida futura. Caso continue sem o transporte que leva a Deus - religião - vai se demorar muito mais tempo na estrada da vida, cheia de impecilhos e pedras que atropelam.

É por isso que cultuo o otimismo. Todas as manhãs, quando escuto as crônicas de Narcélio Limaverde, no programa que leva o nome do apresentador, na rádio FM Assembléia, destaco da memória o prazer de ter podido correr descalça, fazendo troças do balé, que a idade permitia, nas ruas da Aerolândia.


A Fortaleza Antiga ressaltada por Narcélio Limaverde não é uma promessa aos tempos que se foram, mas, principalmente uma forma de reprovar às atitudes que desumanizam a nossa cidade. E todos nós somos exortados a torná-la alegre e fiel esposa do sol, que brilha sempre por aqui.


O sol continua intenso, mas a desposada sofre maus tratos dos filhos. E são muitos os ingratos que sujam suas ruas; roubam os fios que alimentam a energia das lâmpadas; que picham ordens do desmando cultural.


Estamos vivendo o momento da escolha de um novo administrador, mas é tempo também de nos colocarmos como os verdadeiros donos das casas, e não apenas transeuntes da cidade que nos serve de berço e nos abriga.

Retrucar

Quem é agarrado à terra não quer ser cremado. Virar pó literalmente, confundir-se na poeira que o vento leva sem ser perguntado.


Quem é agarrado à vida, paga plano caro para ter direito à UTI.

Quem acredita na cegonha, marca cesárea para evitar a dor.

Quem se agarra à superficie jamais olha nos olhos quando constrangido a ser sincero.

Quem teme a escrita não lê.


Sem linha ocupada


Você pode perguntar para quem gosta de viver pendurada ao telefone, qual a sua opinião sobre os serviços prestados por meio dos telefones. De início, é esquisito você seguir ordens de uma voz metálica, fria, sem a menor intimidade e afinidade.



Você disca os números e eles se multiplicam, te passam para várias pessoas, as quais ouvem a sua história, que por sua vez, é repetida pelo menos três vezes e, ao final, depois de contar em detalhes o que deseja e quando finalmente, parece que vai se resolver o problema, a ligação cai.


Aquele sinalzinho de queda me persegue por horas, e lógico a frustração temperada pela indignação. Agora, finalmente, o governo resolve moralizar o babado: nada de ficar passando de atendente para atendente. Acabou a farra! E quando eu quiser cancelar um serviço não vou ter que ficar ouvindo o pobre funcionário da empresa insistir comigo para continuar recebendo mal serviço.



Pelo mercado


Aqui é proibido trabalho infantil. A frase está lá na parede defronte a escada, que dá acesso ao primeiro andar do mercado São Sebastião, no centro da Cidade, para onde fui com a minha filha Andréa e o meu neto, Victor. Para ele, foi uma maravilha, e chamei sua atenção para a informação escrita com tinta verde. Informei-lhe as razões pelas quais nós fazemos parceria aos órgãos que promovem o estudante e estimulam a educação.




Em meio às cestas de palha, artesanato genuínamente cearense - lá pode-se encontrar todos os tipos e tamanhos - bordados, e outros produtos curiosos como o rolo de fumo, que mereceu uma cara de nojo de Victor depois de saber para que era utilizado. O vendedor veio ao nosso socorro, informando que o fumo é um excelente inseticida. Alívio para todos.


Saboreamos com os olhos as frutas da estação e os pratos típicos como a tapioca. Fazia tempo que o meu domingo não era tão gostoso. Agradeci no íntimo pela escolha. Carrinho cheio e nos ajudando a levar os produtos adquiridos, no setor dos peixes, Victor aprendeu como tirar vísceras e escamas.


Percebi o quanto a minha vida de menina sem internet, sem jogos eletrônicos, sem fast food, foi rica e feliz. A cultura cearense não era mostrada em páginas da Web e não precisava de pesquisadores para entender o cearensês. Era cearense pura, nascida em Fortaleza, mas com um gosto e um trato matuto, que a Fortaleza daquela época gerava em mim.


Por isso, a rapadura não ganha dos doces congelados, muito menos o doce de mamão com coco, a garapa de cana-de-açúcar, a tapioca banhada em leite de coco e os pratos feitos à base de vísceras, a famosa panelada, que não será comida por Victor, por enquanto.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...