Matutar


A poesia matuta é rica. Alimenta a alma com gosto de terra e cheiro da mata. Lembra arranhões provocados pelos galhos das plantações na pele, quando o choro é a razão do poeta. É arco - íris quando fala das cores do amor e lembra vassouradas quando afugenta a solidão.


Fico assim matutando, conversando com os meus botões quando leio os rústicos do sol, empoeirados de embevecimento, esperando a lua chegar para cantar o amor que lhe corrói a alma, mas por não ser intelectual, apenas faz rancho na saudade.


A poesia não tem dono, mas tem administrador. O diabo é a sequência do verso que por ter rima pobre, nem sempre alcança alguém que fique rico só de inspiração, quebrando a rotina da lida insana em busca do aconchego bom.

É tanta fogueira...

Estamos no mês de junho, das festividades ricas tradicionais folclóricas. Removo o pensar e recordo com saudades o melhor dos festejos de São João: o sentimento romântico ingênuo, quando eu podia ficar horas a fio em frente a uma fogueira, sem problemas com a fumaça, à espera da batata - doce assar.


Na minha rua os carros passavam vez em quando e a velocidade permitia que a gente pudesse ficar com tranqüilidade nas vias, reduto das brincadeiras infantis.

O desejo frenético de ver a aliança de noiva - suspensa sobre um copo virgem, com água presa a um fio de cabelo, rezando para Santo Antonio, que decretaria com as pancadas da jóia o tempo que iria ficar solteira.

A facada na bananeira receptiva, que emprestava o seu sulco maravilhoso para desenhar na lâmina o nome do marido ansiado; as quadrilhas, que não assustavam, mas que me deixavam embevecida com o passo ritmado, do qual criança não participava.

O calor e o crepitar do fogo queimando a barra da saia no salto na fogueira, uma das peraltices consideradas artes. Depois de grande, as festas nos sítios dos amigos com direito à tapioca, pé- de – moleque, canjica, pamonha, que perdiam o privilégio da minha mesa, substituídos por um bom pedaço de churrasco acompanhado de uma gelada.

Para não me perder na origem, ainda corria para a fila do pote, de onde saía o gostoso aluá. Volto à cozinha da minha infância e me vejo guardando a boca do pote com um pano, bem amarrado com uma cordinha. Ali não poderia mexer porque o pão estava fermentando junto a rapadura e a água, além dos temperos, que menina não podia saber para não “destemperar”.

Como as superstições são ricas lembranças e como me alimentaram por muitos anos... até hoje ainda exercem fascínio, quase imperceptível, mas que dá uma saudade....

Solar

Sabe aqueles dias em que você se subestima?  Carrega pensamentos sombrios, que só fortalecem o pessimismo? Pois é, de vez em quando eu me as...