Voltando aos galos, enquanto me remexo e busco auxílio nos travesseiros, já foram apedrejados, já viraram ensopados. Fico cismando o pensar, diante de um bom prato de pirão de galo cozido na panela de pressão. Chego a sentir o cheiro e o barulho do apito da panela, anunciando que em breve a fome será saciada.
Imune ao meu desejo raivoso, eles continuam firmes e pelo canto, acredito que um deles é bem pequeno. Mas, quem disse que isso importa? O galo segue o instinto de bravador das madrugadas. O apito do trem do tempo, cujo ceu se abre para a luz, informando que logo mais, a cidade estará completamente acordada.
Abro a janela e peço aos ceus por mais um dia de muito trabalho regado da boa luz divina. O coro entoado pelos emplumados continua, agora fortalecidos pelos passarinhos. As árvores dos quintais vizinhos alimentam os pássaros, que agradecem suavemente.
Quanto a mim, já pronta e com bolsa na mão, fecho a janela, despeço-me do quintal verde, feliz por ser dessa cidade, que cresceu exorbitantemente, mas que tem moradores (alguma boa dona de casa), que alimentam os galos que me acordarão amanhã.