Na cozinha

Atualmente sigo a receita para ser feliz:

Descarto temperos antigos, fora do prazo de validade, do tipo é preciso ter sempre um objetivo para continuar caminhando;

potes pequenos que cabem poucas sobras. Sim porque nem tudo que não é consumido é lixo;

no congelador o verde, as hortaliças risonhas do meu viver, para que assim se conservem;

Preparo banquetes em grandes panelas para alimentar de esperança os que me rodeiam. Sim, não preciso viver só para me conquistar;

Mesa ampla para reunir alegrias, desabafos, muxoxos e até falta de apetite. São as minhas fases, verdadeiros graus que me elevaram até aqui.

Manter em banho maria os alimentos a servir, verdadeiras companhias do caminhar. Sim, na falta de visão noturna, costumo dormir na direção e pego atalhos.


Companhia

Com quem andas? Esta frase com o português no popular - com quem tu anda? - era o interrogatório materno fazendo alerta para as más companhias, aquelas que nos induzem ao mau caminho. Santa ignorância minha, o que seriam as más companhias? Aquelas garotas que usavam saias curtas, que usavam cabelos também curtos? que saiam em companhia dos namorados, colegas de escola, que pintavam as unhas? Resmungos e mais resmungos acompanharam-me por muito tempo, que geravam uma insatisfação tão grande própria de quem não alcançava o sinal amarelo da vigilância.

Após o fim do primeiro casamento, lá vem o questionar com dedo em riste para a atenção à mulher descasada, que não pode namorar porque tem filhas, as meninas precisavam de muita presença.

No trabalho, as companhias nem sempre más com as rasteiras incertas.

Nas noitadas as quais costumava chegar e sair sozinha...

Afora todas essas provocações sociais, dava-me conta das más companhias quando sozinha. Ensimesmada e por que não dizer assustada com o pensar nevoento, que arrancavam dores da alma. Não eram presenças físicas, que podem atordoar com tantas informações, mas imagens fortuitas, vozes sem endereços, e o que é pior, sem clareza.

Com quem ando, pergunto eu agora, com insistência. A vigília agora é minha!

O valor da flor

A continuidade da vida - além da existência física na Terra - permanece em nós ainda encarnados, saudosos dos que partiram como uma promessa de reencontro. Enquanto isso não nos é permitido vamos nos agarrando ao palpável. Nessa rotina de vida reta, exploramos os sentidos numa busca incansável de contextualizar em nossos momentos aquele que nos ensinou a sorrir, a chorar, a nos perplexar diante de um leque infindo de experiências.

A imagem ao lado, as flores  cheias de vida são um presente. Foi o meu pai que levou para crescer no meu quintal uma muda, que ele tinha sempre o cuidado de observar seu crescimento, fazendo recomendações e alertando para a importância da rega. Essa planta vai crescer um bocado e dá umas flores muito cheirosas, você vai gostar, dizia ele.

Naqueles momentos não nos davam conta- pelo menos eu - do quanto essa planta, com seus galhos magros e altos e suas flores maravilhosas me fariam companhia. Hoje, longe da presença física dele, esse mimo do meu jardim está ali prometendo manter o carinho que me dispensava.

Obrigada papai. Você me ensinou que a vida é o melhor presente.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...