Minhas amigas


Hoje estou pensando seriamente sobre as minhas amigas. Não vou aqui definí-las porque são grandes, amplas e não caberiam aqui num conceito pretencioso. Mas, posso falar na emoção que me embala pelo sentimento que temos em comum.


Li que a amizade na Terra é o que mais se aproxima, é o ensaio da Lei Universal do Amor. Elas compõem quase todo o alfabeto. São divertidas, misteriosas, pacientes, ternas, companheiras - mesmo que distantes -belas e incrivelmente explosivas ao dizerem que a minha gargalhada é um dos meus melhores ingredientes.


Tenho amiga para todos os momentos e necessidades. Reconheço que elas são mais amigas do que eu porque recebo muita atenção e, nem sempre, retorno àquela ligação esperada. Passo meses a fio sem enviar um e-mail, mas a amizade permanece no seu reduto, intocável e imune no aspecto esquecimento.


Algumas são leitoras assíduas do blog e estão sempre consentindo com o pensar e estimulam-me a continuar. Ora, deixe de timidez, escreva logo um livro! Respondo sem falar que o livro da amizade é formado de capítulos diários, que vão desde o aperto de mão ao tchau sem cobrança.


E por falar em cobrar: é tão divertido ouvir quando uma delas me liga você, hem? se não ligar não tem conversa, sua furona! Ou tem um tempinho pra mim?


O melhor das amigas é lembrar delas sorrindo, o prazer extensivo de vida de uma relação primária, posto que necessária, que secunda o cotidiano tão adverso e me faz ser leal.

Doce infância


Eu sou do tempo que comida típica era sobrevivência e não exótica como hoje. Que comer canjica quentinha, queimando a boca era um dos maiores prazeres. Ainda com a mão com marca amarela do milho que ajudava ralar e depois coava nos panos grandes próprios para isso, sorvia aquele bocado temperado com ervas e muito coco. Especialidades da minha mãe com quem aprendi a fazer os quitutes depois costumizados com o meu jeito temperado de ser.


A aventura começava cedo na feira, momento em que aprendia a diferenciar a melhor espiga. Depois, em casa, tirava a casca e com a ajuda de uma faquinha de ponta, os cabelos dourados, que depois enfeitavam a bonequinha de sabugo. O cheiro dos caroços sendo moídos me enebriava e lançava convites no ar para uma mudança de atitude. Conseguia vencer o desafio de segurar aquela colher enorme de pau e invejava a mamãe que com braços fortes, transformava a mistura num manjar.


Lamber panelas com a irmã, numa disputa de rinha. Eu, sempre gulosa recebia censuras que valiam à pena porque o doce mais doce da minha vida estava ali, na ponta dos dedos.


O prazer da infância nesse período junino era também vivido nas ruas, onde esperávamos sentadas sem a preocupação de se contaminar com micróbios - naquela época não se falava em viroses - a batata doce assar nas fogueiras. As batatas assadas não se perdiam entre as cinzas. Era o retorno da aventura, logo cedo, catar o "pão" do café que já exalava o seu cheiro convidativo na cozinha.


Na mesa, em família, os panos limpinhos eram retirados e apreciado o banquete de canjicas frias, no ponto do corte; pamonhas firmes e as batatas, devoradas com casca.

E se o céu tivesse acostamento?


Hoje estou disposta a abrir o baú do humor. É o meu jeito malandro - mas não peço a Deus mais tempo por ele - quero curtir um pouco com os problemas reais em meio a tantas declarações fantasias. Estamos reclamando - com motivos - das longas esperas nos aeroportos. Se o céu tivesse acostamento, seria o inferno dos controladores.


Agora não imagino mesmo que uma pessoa com dificuldade para se comunicar seja responsabilizada pelos transtornos. Não dá para ser claro, gaguejando uma informação, que precisa ser entendida numa fração de segundos. Não quero dizer aqui que não seja possível. Neste país tudo, eu disse tudo, é possível.

Recados


Nem sempre percebemos os recados que vêm do alto. Em alguns momentos, estamos tão pra baixo que o ponto mais fácil de escalar é o pico do umbigo. Mas, recado uma vez dado, fica para sempre.


Hoje me dou conta das muitas tarefas missionárias que protagonizei sem que o verdadeiro discernimento viesse a tempo. O meu primeiro trabalho usando a voz foi para a Colônia Antonio Diogo. Com meu jeito espaçoso de ser - graças a Deus - topei o desafio estimulado pelo professor de fotografia.


Tratava-se de um texto sobre o trabalho naquela casa, pano de fundo para um pequeno filme. Não cheguei a ver o trabalho completo. Apenas emprestei a voz. Esse foi o primeiro passo para trabalhar em rádio. Nonato Albuquerque, contemporâneo na Universidade Federal do Ceará, ouviu e me levou para treinar na rádio Iracema.


Essa lembrança foi despertada na tarde de hoje enquanto ouvia um convite para ir à Colônia Antônio Diogo, num trabalho voluntário, doação que tanto nos acalanta o viver.


E a voz, antes tímida, trêmula, hoje flui em sintonia com o alto. Pois é, transmito recados para quem tem ouvidos. E isso não é presunção. É ser instrumento de um trabalho bem maior que a minha compreensão, mas que nem por isso diminui a vontade de chegar lá.

Ela merece

A melhor da Universidade Federal do Ceará merece ser alvo de comemorações, de ser citada nas melhores escolas até ser efígie de selo, mas e as que não são citadas? Aquelas que vão à escola só na vontade? Que mal escrevem o nome e que não acreditam que possam seguir adiante?


Lógico que não estou tirando o mérito do momento, assim como é a melhor em notas, Erika promete ser uma ótima profissional. Mas, e quantos os que estão terminando o curso agora, fazem estágios e, logo mais, estarão fora do mercado que resolveu adotar apenas estagiários?

Parabéns Erika - o mesmo nome da minha também brilhante filha, sem a letra k - mas quem mais vai estar ao seu lado, alguém aqui da terrinha? Sem querer tirar o brilho da UFC, como está a Universidade Estadual do Ceará, em cujo momento os professores tentam melhores salários?

Pois é garota, a homenagem do presidente Lula será passageira, mas o mérito todo seu, vai te acompanhar. Vai se somar à vontade de promover mudanças. O início já foi tocado.

Nada de paradas, a vida requer movimento.


Cedo aprendi que orgulho é uma manifestação de prazer que merece condecoração. Tenho orgulho da minha filha porque é muito estudiosa. Vai ser médica. Ouvia calada porque retrucar naquela época, no ambiente familiar era, além de falta de educação, motivos de sobra para uma sova. Calava, mas não consentia. Se eu era motivo de orgulho porque era castigada?


Depois aprendi que orgulho é um sentimento do tipo inferior porque maltrata. E agora fico me perguntando do que me orgulho. Com certeza, é melhor ter admiração que é a comemoração de algo e de alguém que me faz sentir bem. Que é modelo norteador de muitas ações.




Não iria, portanto, à uma parada hétero reclamar da parada gay, que se popularizou e reúne milhares de pessoas e já passou a ser considerada um ato no calendário social. Também não iria preencher vazios no movimento hétero só por ser hétero. Há tanto mais movimentos na minha relação de desejo pessoal.


Na realidade, eu nunca fui de fincar bandeiras por algo que me pusesse na vanguarda. Prefiro estar nos bastidores, sendo expectadora, tentando entender os porquês e por quês. Não vou para o bandeiraço e, muito menos, atiro pedras. Somos livres para criar movimentos sejam eles irreverentes ou não. Sejam eles fadados ao sucesso ou fracasso.

Com prazer


Acabo de ler o livro revelador As Boas Mulheres da China, da jornalista Xue Xinran, que ganhei da minha amiga Fátima Vilanova. A obra é a reunião de relatos que a também locutora ouviu durante oito anos em que trabalhou numa emissora de rádio, naquele país.


Ao fechar o livro senti um misto de horror e vergonha por estarmos vivenciando situações tão escabrosas de desrespeito à condição nossa de humanidade. Ainda somos seres presos a estranhos instintos de conservação que, para sobreviver precisamos esmagar literalmente o outro.


A narrativa maravilhosa de Xinran tem a ver com o significado do seu nome: com prazer. Fiquei maravilhada por sua coragem de ser jornalista num momento em que o seu país passava por uma fase crítica. E como jornalista sei bem como nos debatemos diante de certas situações e como nos sentimos frustrados por não poder modificá-las, de imediato.


Conhecer a real história de repressão para Xinran, que também foi protagonista durante a sua infância, foi enriquecidor no momento em que os relatos comprovados colaboraram para sua também libertação das dores.


Eu sempre tive grande admiração pelo escritor, não só pelo artista que é, mas pelo desbravamento, sem invadir o cotidiano de seus personagens factuais, mas sobretudo, pela força da vontade de ir além.


Xinran também escreveu outras grandes obras que precisam ser lidas, dentre elas o Enterro Celestial e o Sol Cai no Tibete.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...