Em busca do meu discurso

O meu pensar é tão latejante: não me dá sossego. E a vontade enorme de deitar tudo neste espaço, muitas vezes me consome. Então, por que não faço isso? 

Pode-se dizer que sofro com empecilhos, noias, preguiça ou até mesmo dor no ombro.... e dói mesmo! 

Já apostei muito nessa vontade de escrever. Aos 15 anos, escrevi o primeiro romance não publicado porque está perdido. Guardo as personagens comigo porque são inúmeras EUs. 

Será que daria para
fugir de mim e criar pessoas outras? Como se sente assim o escritor, no momento de criação?

Nem sempre me "senti" autora. Na maioria dos momentos escreventes "alguém" dita. 




Quebrar é bom?


 Estava cismando o pensar na frase que lateja: "vou nem que me lasque". 

Este mantra(?) carreguei por muito tempo. E não é que me lasquei! Não no sentido de quebrar, mas de empenar. 

Eu sou assim, fico empenada em momentos turvos. 

O meu pensar é tão - como dizer - ligeiro demais, que nem sempre o alcanço. Mas, de vez em quando, empenada, consigo distraí-lo e sinto-o com mais intensidade. 

Quem dera que tudo se resolvesse dentro da minha lógica. 

Não que eu me considere tão racional. Sou mais do tipo que "viaja" mas não me perco, porque a âncora que me prende à razão, não me deixa largar à tona as ideias mirabolantes minhas. 

Portanto, o "nem que me lasque" pode ser interpretado como uma intrepidez diante do assombro dos muitos que me rodeiam. Afinal, as joias para encantarem precisam ter suas pedras lascadas.  

Sinergia

Acabei de viver momentos especiais. Reuni três amigas que os atalhos da vida (serão mesmo?) me trouxeram. 

Foram tantos assuntos, que democraticamente, conseguimos por em dia, a realidade de cada uma: idade, emprego, relacionamentos, dinheiro, conflitos, família, tranquilidade... Nessa maratona, acredito que nós não nos perdemos. 

É claro, que o meu humor brincalhão se fez presente, porque, afinal "rir é o melhor remédio". Dos muitos temas aflorados, a maioria mereceu relatos profundos. E não é assim que nos motivamos nas reuniões?

Nada é mais prazeroso do que o contato, a troca de energia, os olhares curiosos, de admiração, de concordância, de espanto, de afirmação, de aplauso e de muito agradecimento. Sim, percebemos que a gratidão é o sentimento que sempre buscamos. E não há vazio que ele não preencha. Luz, amigas!
 

 

Saudade versus lembrança

Ter saudades ou boas lembranças? 

Quedar-se sobre os ombros da maturidade me faz refletir, sempre. Estava assim cismando o pensar,  ouvindo músicas que me embalaram em salões, na rede, no abraço, no aconchego de mim mesma.

Saudade dói, então, hora de despachá-la para o canto adormecido do passado. 

Já as boas lembranças, essas sim, merecem cultivo. 

Sei que preciso saber quais flores plantar, qual verde espelhar. A rega é permanente, assim como o sol que seca.

Razão e coração

 A razão cala a voz que o coração reconhece. Este pensamento me veio hoje a acordar a mente. E, no banco de memórias, rebusquei o que me valia de esperanças, de contentamentos, de alívios em muitas emoções tumultuadas minhas. 

O que guardo nesse banco? pessoas, infinitos momentos de abraços, acolhimentos, recusas.... Há poeira na memória do meu tempo que se quedou calado. No compartimento das aflições me pego em lágrimas. Ah! as dores da minha alma que me sacodem e mostram o riso. Oh, o riso... quantas vezes mascarei-me só para não ter que ver a tristeza que me assomava.

Psicólogos, coachees nos convidam para esquecermos o que nos acorrenta em abismos da nostalgia. E, me pergunto: eles conseguem? Acredito, hoje, sei que o meu banco, a minha poupança de lembranças - muitas esquecidas, de fato - sou eu. E por que eu me descartaria? 

A pena


Ao observar uma pena, que se entregou ao vento, sigo com o olhar e tento esvaziar a mente. 

E se eu fosse a pena, flutuaria no espaço sem a nada me agarrar. 

Solta! 

Dançaria sem música, apenas no movimento da leveza. 

Sem medo de cair, caso o vento parasse de soprar. 

Não teria sentidos... 

Apenas flutuaria sem a existência pesarosa. 

Seria linda, branca sem matizes, 

sem arrepios... 

Valeria à pena, se eu fosse uma pena?

O crescimento não é silencioso



A água que salva, também afoga. 

Esse pensamento me ocorreu enquanto molhava o chão do jardim em benefício das plantas que amo. 

Em alguns lugares desse mundo verde, o solo está tão encharcado devido à insistência do líquido perene, que a plantinha não cresce. 

E cá comigo pensei algo em busca da liberdade. 

Cismo porque a insistente sombra afeta o meu pensar. 

Por que não consigo me libertar e fluir alcançando o progresso silencioso da Natureza, que nos permite ser/ter algo tão belo quanto um jardim? 


Sabendo do poder que tem a mente, por que não utilizá-lo para simplesmente me encher de um solo fértil com alimento suficiente para continuar crescendo?

Fugaz

 Nesta vida, que muitas vezes é um assombro, flagrei-me inquieta. 

A inquietude é tão ampla que invade a consciência de quem sou. 

Sim! E quem sou, de fato? 

Se for apelar para a lógica, me perco. 

Acho que sempre gostei de fugas. 

Ser fugaz não faz bem a escolha de ser... 

No entanto, é assim que lido com os milagres da vida, que são permanentes.

Nunca fui guerreira




Nunca me senti confortável quando alguém dizia que sou uma guerreira. 

Por que tenho que chamar de armas as ferramentas que uso para sobreviver? 

Os desafios são trincheiras?  Contra quem estou guerreando? 

Ah, tá, há muita encrenca para o lado do nosso gênero e os "inimigos" ainda nos matam. Mas, o que estou falando aqui e agora é sobre outro tipo de definição que a mídia alimenta: o combate ao tempo no corpo.

Todos os momentos da vida lido com esta palavra e o possível terror de envelhecer. 

Ainda bem que não tenho. Sendo assim, chega de me convidar para usar cremes para combater rugas, flacidez.... 

É claro que me exercito. Os músculos precisam ser fortalecidos. Mas, o que quero mesmo é dizer que com o tal peso da idade, a vaidade de ser uma mulher atleta, gostosa, foi substituída por ter mais tempo para cuidar de mim. Afinal, agachar sem gemer é o meu maior desejo. 

Meninas, a combatente aqui quer paz! Eu não estou pedindo licença para mostrar os braços flácidos.


Danço, danço....

Quando danço não sigo coreografia. 

Não respeito os passos atuais. 

Os movimentos são livres, nem penso quando me jogo! 

Aliás, é um dos raros momentos em que a mente se desocupa.

Só o cansaço me doma e aí eu paro, mas o sorriso, os olhos, o juízo todos ainda no ritmo. 

Já experimentou dançar como se estivesse sozinha? Fosse a única na pista? 

Eu faço assim. 

E olha que eu nem planejo(hehehe) Só danço e danço. 


À amiga próxima pergunto: exagerei? E ela responde que sim. Só um pouquinho.

Sede


Beber na fonte é uma expressão que vem bem neste momento. 

Ando sentindo muita sede nas últimas horas. E não é de água! Eu tenho sede é de interior. 

Sempre quando tento mergulhar nas entranhas do meu ser, encontro barreiras do tempo, da falta de tempo, do tempo perdido. 

Pensava ser desculpas para esse recuo inexplicável, quando me dei conta de que tenho medo de me encontrar na totalidade.

Afinal, faz tanto tempo que convivo com o meu desconhecido, que passei a gostar da persona atual. 

O que me resta a fazer se não ficar adiando esse compromisso sef, isso, porque terei sempre o que fazer. 

Morando no (in)certo

Acho engraçado quando vejo a curiosidade de jovens a respeito da passagem do tempo na pessoa. Cada pergunta que me tira um pouco do siso exigente de questionamentos mais, vamos dizer, ricos. 

A pergunta que me insultou a escrever neste espaço - que deixo de molho vez em quando - é "como você fez para ficar velha desse jeito, tão linda!" A indagação não me foi dirigida, mas era como se fosse.

Então, estou aqui a responder: trabalhei feito uma doida, dei plantões exorbitantes diante de uma máquina de escrever e diante de uma mesa cheia de docinhos para enrolar; fui invadida no íntimo inúmeras vezes; desrespeitada, molestada e assediada. 

Além disso, passei fome. Fome de alimentos, de atenção, de gentilezas, compreensão.

Chorei muito, tive insônias infindas, ralei... 

Amei pacas! tive amantes fantásticos e também aqueles que a gente conhece para depois esquecer.

Pari filhos maravilhosos e acompanho o crescimento dos netos.

Se continuo bela é porque sempre me curti. Até quando achava que me odiava. Portanto, a minha resposta não vale pra ninguém. Essa experiência é minha. Nem queira experimentar. Quem me acompanhou e acompanha nos momentos de descanso verbal, sabe. 

No mais, vamos às pitangas!

Morando fora do relógio

Hoje vou falar da minha relação com o relógio. Esse aparelhinho inventado no início da era cristã por um chinês e que foi revolucionando o mundo e nos colocando na jaula do tempo. 

Sim, os ponteiros nos regem e os dígitos também. 

Ah, mas não estou aqui para contar a história desse domador e ditador, não! O que quero expressar é a minha quase total liberdade das horas. 

Ah... pois não é que  consigo ficar sossegada diante do passar do dia? E a noite que eu devorava com ânsia para dormir e, ao mesmo tempo, correndo para aproveitar os sinos e suas badalações...

O correr do tempo e da hora.... quanta imaginação e fantasias cabem nesse nicho. 



Quando eu encarolava as ideias, julgando um despertar nítido com direito a sol, escapava que nem passarinho ansioso pelo primeiro bater das asas. 

Eu não me faço de rogada pelo tempo e percebo que soube bem aproveitar as horas ditadas, as de espera, as de espanto, as de ânsia e, por fim, da calmaria. 

É um exercício perceber-se ponteiro e, buscando lá no fundo do ouvir, um badalar me chamando para a vida!

Morando na inquietude

 

"Tudo é uma questão de manter a mente quieta, espinha ereta e o coração tranquilo". É o que aconselha trechos da música de Walter Franco. E é o que tento fazer comigo. Afinal, quem melhor cuida de mim se não o Criador e eu seguindo-o. Estou quase deixando algumas mídias sociais, pelo menos, de lê-las. Há tanta controvérsia...

E, naqueles momentos em que me acho sábia, tento não me assustar com o que falam. A minha mãe sempre repetia aquele jargão "Quem tem boca fala o que quer e quem tem ouvidos ouve o que não quer." Nada mais sábio!

É preciso provar do doce para saber o que é amargo. De uma verdade eu sei: o amargo é também sabor e precisa ser (a)
provado. 

Morando na crença






Eu creio. 

Dias melhores virão. 

Porque não importa o quanto a realidade me impacte, eu preciso perceber os milagres que ocorrem ao meu redor. 

Mesmo que não sejam em mim somente, mas naqueles com os quais convivo e me importo.

Eu sempre acreditei que poderia ser alguém melhor, mesmo quando já achava que tudo relacionado ao meu Eu já superava muitas outras pessoas. 

Quanta petulância e ingenuidade. 

Não sei se fui muito feliz navegando nesses mares da supremacia. 

Já disse aqui que não me censuro. 

Aos 67 anos - beirando os meia oito - aprendi a respeitar desde a menina que fui, com minha ingenuidade e rejeições, à mulher de hoje. 

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...