Dia da criança sem choro


Não era uma bola que pudesse ser chutada, pesava, doia no pequeno pé. Mas, mesmo assim ele insistia querendo mostrar força encontrada nos olhos do pai, que disfarçava a falta de dentes com uma das mãos. Mas ele sabia que o pai sorria por meio dos olhos.




Tentou inutilmente até cair. Fez uma ligeira carinha de choro, lábio inferior imitando uma pequena flor, olhos com contornos vermelhos, mas levantou-se, sacudiu a poeira do shortinho e disse: vou chutar, pega aí!




Bateu e voltou. E nisso ficou até que na última queda, resolveu certificar-se do peso do brinquedo desejado. Era um danado de um buraquinho, quase que não dava para ver mas que deixava o ar escapar.




Papai será que se eu soprar bem muito vou encher a bola, pai? Não filho, mas veja o meu pé é maior, vamos tentar juntos. Viu só? Lá vai ela, com preguiça, mas vai.




Lá do outro lado da rua, enconstada numa pedra, segurando uma boneca sem braço, a irmã um pouco maior, ria com a felicidade da criança que não sabe identificar o brinquedo usado do novo, das ricas prateleiras.




Estou só querendo pensar no dia da criança, que as lojas ensaiam uma felicidade que tem preço.

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