Até mais ver


Fui ao velório da minha amiga Brioso. Quando se inicia uma amizade não se pensa nesse tipo de reunião(?) É nesse espaço criado pela crença nossa da despedida, que o choro é solto. Não se esconde a dor, expõe-se e ninguém ali vai reparar a maquiagem borrada; o nariz vermelho, o fungado e não vai se questionar se você fala com o corpo pálido e retezado sem o fluído vital. Mas, não fiz assim.


Limitei-me a abraçar outra amiga recente, formando um elo de energia de boas vibrações para que o seu retorno ao mundo verdadeiro seja o mais lúcido possível e com poucas surpresas. A gente nunca sabe o que vai achar na estação de desembarque. Apenas o desejo de ser bem.


Lá dentro da sala, reduto de orações e de corpo presente, um apelo uníssono ao criador para receber de volta a filha. Lá fora, a ordem natural - que não se abala - lançava convite para um olhar mais longo ao satélite natural, que banhava languidamente as pequenas flores, ornando espaços num indicativo de que ali jaziam antigos corpos vivos e frenéticos.


Aceitei o convite e respirei fundo a realidade, de que também serei em algum tempo, razão principal para um velório. Nem adianta cantar louvor, saudade dói, prende, mas no fundo compensa a certeza do reencontro.

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