Falando pelos cotovelos

Eu sempre tive problemas com o cotovelo. E o esquerdo é predominantemente de esquerda! Ops! Na infância, o corpo era amparado por ele, que se descascava todo e inchado dava reforço às reprimendas dos pais. Na adolescência, era a parte mais escura do braço, pele ressecada, denunciando a falta dos cremes usados hoje, por obrigação. Escondia, ah, como escondia a minha mal resolvida relação com o cotovelo.

Uma vez maior- não digo ainda adulta - foi razão de cobrança da etiqueta na hora das refeições. O cotovelo tem que ficar abaixo da mesa. Nunca em cima!

Ficando adulta - espero que seja até mesmo depois que a morte me separe do corpo físico -  uma pancada por bobeira no andajá (é como chamo o simulador de caminhadas que uso em casa) cotovelo ganha uma bolsa d'água. O exame médico depois do saco esvaziado denuncia calcificação. Claro que foi no cotovelo esquerdo. Raio X confirma a suspeita e o tratamento com um remédio baratinho, baratinho, devolveu-me o cálcio moderado do esqueleto.

A dor de cotovelo permanece. É a parte mais machucada atualmente ao ver que a mediocridade é confundida com jeito de ser.




Um comentário:

Nonato Albuquerque disse...

Eu já passei por dores de cotovelo; nunca as tive fisicamente. Nunca fui de quebrar pedaço de mim, além da cabeça. Mas esse texto seu é incrível. Falar de algo tão comum, com a propriedade que você disponibiliza é revelador de almas gentis. O cotovelo é mestre a nos auxiliar a entender desde regras de civilidade (etiqueta?) até as dores morais das quais as maiores estão passam por ele. Não é atoa que as dores do coração têm a ver com o cotovelo.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...