Pula, pula






Recebo convite para divulgar o dia do saci pererê, que é comemorado em 31 de outubro. Abro o arquivo da infância e tento encontrar o menino arteiro de uma perna só nos meus sonhos de menina. Enquanto o dowload não é concluído, cismo o pensar para a infantilidade superficial da programação de hoje.


Lamento profundamente a falta de espaço e de oportunidades que as crianças desta década não experimentam. Pode até ser divertido usar o mouse para fazer o saci pular o tempo todo e aprontar com os desavisados, mas é bem diferente imaginá-lo no jardim, no quintal da nossa casa.


Fazer de conta que o cheiro do cachimbo daquele menino danado ou mesmo um assovio de assombro, fazendo a drenalina acelerar o batimento do coração. Pode até ser confortável a piscina coletiva de um grande condomínio, mas nada compensa a água gelada e convidativa de uma lagoa em meio ao sertão, como um grande bem quase único.


Pode ser saboroso o sorvete, mas foge longe do sabor natural da fruta comida enquanto se disputa o galho da árvore, que não nos rejeitava naquele tempo em que malinação era pular sem muito cuidado.


O saci é genuinamente brasileiro, assim como o desejo de que a criança possa experienciar a liberdade de andar descalça sem medo de pegar bicho, ou mesmo, sem se queimar no asfalto, no abandono do cuidado, do olhar materno atento.

Praias


Estava lendo há pouco sobre o desinteresse das pessoas com relação às praias. Digo, interesse de desfrutar da água salgada do mar e do sol. No século XIX, lá pelos idos 1820, no Rio de Janeiro, algumas pessoas faziam exercício e davam mergulhos fortuitos por indicação médica. Era o banho medicinal para revigorar as forças.




Só algum tempo depois, é que os cariocas saudáveis começaram a frequentar as praias, muito cedo, antes do sol nascer porque depois, quando o sol vinha saudá-los, não era de bom tom para moças e mulheres de família exporem a figura naquele ambiente que era frequentado por qualquer outro.




Alguns setores da sociedade reclamavam e não entendiam o interesse dos saudáveis em frequentar as praias vazias e distantes. Acreditava-se - veja só - que era apenas mais um modismo do Rio de Janeiro.




Hoje, bem diferente do que se apostava, toda a orla marítima do país é disputada, pedaço por pedaço, com sol alto, vida caliente e garante rendimentos inúmeros para diversos comércios, desde o vestuário a à alimentação e também moradias. As casas e apartamentos em arranha-céus não eram imaginados pelos que no início do século XIX, construiam suas residências de costas para o mar.




É por isso que hoje as praias, que ainda continuam escapando da ganância imobiliária, são consideradas exóticas.


Pedra


A cultura ainda dita que o trabalho físico, o que exige esforço físico, é para quem não usa o intelecto. E é por isso, que o pessoal do intelecto precisa pagar academias para por os músculos em ação. Que o estresse é o fruto da vida degenerativa, digo, vida sem movimentos.

O cérebro não tem músculo e não tem contra-indicação. Por isso mesmo, o homem para diminuir o excesso criou o botão, que abotoa, que trabalha por ele. Mas, para chegar ao botão, a humanidade carregou pedras, subiu montanhas a pé, levou raios e matou.

Já vai longe o tempo em que usava papel carbono e a maravilhosa copia ficava no arquivo. As vezes acho que o homem sente falta do suor derramado, do sol escaldante em roupas não próprias e dos calos que sangravam. Isso, porque os filmes que miram o futuro da humanidade sempre coloca o homem de volta ao passado, atritando pedras para conquistar o fogo, a grande descoberta.

Se deixar, o vento leva!

  De vez em quando faço uma ligeira pesquisa por aqui, neste espaço.  É tão bom ler o meu pensar de alguns anos.  Este blog tem me acompanha...