O meu pai gostava muito de música. Sempre ouvia no radinho de pilha as novidades musicais nossas. O rádio, foi uma das suas grandes paixões porque nele ouvia as transmissões dos jogos do seu time querido - Ceará Sporting Clube - e seus cantores preferidos.
Tempos depois, bem antenado, o seu Raimundin, como costumava chamar, andava com o celular para ouvir Zeca Pagodinho. "Deixa a vida me levar" era entoado por ele, dedilhando na mesa o seu batuque preferido.
Aprendi a gostar mais ainda de Zeca Pagodinho por conta de papai. Deixar a vida levar poderia ser um desprendimento de muitos sonhos que ele ansiava? Não cheguei a perguntar-lhe isso, mas com certeza, ouviria uma boa resposta.
O seu Raimundin tinha umas respostas bem interessantes e que me deixavam entre o entusiamo e a dúvida: "Minha filha, a Terra (Planeta) foi criada por Deus, que nos deu esse paraíso. O problema é que ele criou gente".
Mas, pai - interpelava - se a gente não existisse, você também não estaria aqui. Ao que ele revidava: "e qual seria o problema?"
A vida que nós levavamos teve lá os seus solavancos e, por algum tempo, na juventude, não ficamos próximos. No entanto, quando me dei conta do quanto eu o apreciava, nunca mais ficamos distantes.
Ainda vejo você, papai, com a mão descansando sobre a mesa, nos intervalos de goles de café, a sua bebida preferida, acompanhando o ritmo da vida que se deixava levar.
Saudades são grandes, tamanhas....
