A minha filha me perguntou o que eu faria se ganhasse a mega-sena acumulada. A resposta, em tom de brincadeira, não dá para repetir aqui, mas tem o mesmo sentido do que a da maioria das pessoas que enfrenta filas nas casas lotéricas, em busca de dias melhore$.
É a mesma resposta ensaiada: vou mudar de vida. Vou melhorar. Deixar de trabalhar e sair de férias permanentes. Não sei não. Tem gente que me diz que eu penso como lisa, quando digo que não deixaria de trabalhar por dinheiro nenhum. E ter uma ruma de dinheiro não dá trabalho?
Não gosto de estar ínsone e os milhões tomariam o meu sono e nem adiantaria apelar para o vinho porque Baco não faria as pases com Morfeu. Deixar de trabalhar cultua o queixume do assalariado que vê na lida diária, um castigo. A interpretação se faz jus porque trabalhador brasileiro como lembra Seu Jorge não tem dinheiro.
É uma sinuca: sem trabalho o homem parasita-se, trabalhando indigna-se e nem se dá conta de que engorda as contas dos agentes lotéricos. Quanto maior o prêmio, maior a procura. Aí não se deve ler: quanto maior a demanda, maior o ganho.
Eu não acredito nos números fáceis que estão à vista e não os enxergo. O mundo financeiro atrai pela numerologia, ilude pela multiplicidade, engana pela divisão e equivoca pelo brilho no desbotar do desengano do ouro do tolo.
Um comentário:
Eu sou adepto da seguinte teoria: O que dinheiro e peia não resolver é porque foi pouco.
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