Recebo convite para divulgar o dia do saci pererê, que é comemorado em 31 de outubro. Abro o arquivo da infância e tento encontrar o menino arteiro de uma perna só nos meus sonhos de menina. Enquanto o dowload não é concluído, cismo o pensar para a infantilidade superficial da programação de hoje.
Lamento profundamente a falta de espaço e de oportunidades que as crianças desta década não experimentam. Pode até ser divertido usar o mouse para fazer o saci pular o tempo todo e aprontar com os desavisados, mas é bem diferente imaginá-lo no jardim, no quintal da nossa casa.
Fazer de conta que o cheiro do cachimbo daquele menino danado ou mesmo um assovio de assombro, fazendo a drenalina acelerar o batimento do coração. Pode até ser confortável a piscina coletiva de um grande condomínio, mas nada compensa a água gelada e convidativa de uma lagoa em meio ao sertão, como um grande bem quase único.
Pode ser saboroso o sorvete, mas foge longe do sabor natural da fruta comida enquanto se disputa o galho da árvore, que não nos rejeitava naquele tempo em que malinação era pular sem muito cuidado.
O saci é genuinamente brasileiro, assim como o desejo de que a criança possa experienciar a liberdade de andar descalça sem medo de pegar bicho, ou mesmo, sem se queimar no asfalto, no abandono do cuidado, do olhar materno atento.
2 comentários:
Infelizmente eu sou dessa geração: assisti a Xuxa e não podia ultrapassar o portão do prédio...
Renata,
Não há infelicidade em ser do tempo da Xuxa! Agora, com a nova conscientização sobre o fumo certamente o cachimbo do Saci teria existido.
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