
Os salões de beleza são os redutos para confraternização. Já tive inúmeras conversas com milhares de cabeças tingidas. Não morro de amores pelos estabelecimentos que só busco pra cortar o cabelo. Em defesa do meu dinheirinho, pinto os brancos e faço pés e mãos em casa.
Acontece, que no último sábado, tive uma oportunidade bem diferente no salão próximo à minha casa. Por ser muito cedo, erámos apenas dois clientes: eu querendo ficar mais bonitinha e um professor aposentado. Depois do tradicional bom dia, confesso que fiquei muito a vontade, com aquele monte de "piranhas" prendendo os meu cabelos, cara sem maquiagem e ele me olhando, puxando conversa.
Aproveitando a deixa de estar tão desarrumada, ataquei na maior sinceridade, já que falávamos sobre antigos relacionamentos: O que você não mais faria por uma mulher? E ele, depois de uma certa demora:
responder às cobranças, do tipo onde estava, a que horas e com quem? Ora, respondi. A pessoa quando estar alguem quer estar perto!
Na base da simbologia eu não espremeria mais laranjas, sem ligar o espremedor, para não acordar o dorminhoco. Acredita que eu fazia isso? E ele, sorrindo entendeu, curtindo a expressão "reincidência" para nós que nos apaixonamos e dividimos teto com outra pessoa mais de uma vez, que hoje incomoda se não baixar a tampa do sanitário depois do uso; que transtorna se não dá notícia - naquela base de nada de cobranças - e que aporrinha o meu mais novo amigo professor, se a moça pernoitada, não lavar as louças do café.
Agora, vejo com muita clareza, que depois de um certo tempo sozinha, a gente começa a se sentir autosuficiente. Eu, desde cedo aprendi a trocar lâmpadas, o botijão de gás, pintar paredes, e o principal, garantir sustento sem pensão. Não me sinto orgulhosa pra ser franca. Eu ainda prefiro um par de pés coçando os meus numa boa rede.