Os sons do 7 de setembro


Cedo, respirando o ar sem contaminação dos carros em movimento, escuto o barulho da água do café seguido do cheiro forte que alimenta a docilidade materna do lar. Com a boca ainda quente do líquido, rego o verde do quintal, conversando intimamente com as plantas coloridas por flores resistentes. A natureza é assim, o homem omisso e ela verdejando a esperança dos dias cinzas.

Na padaria, reclamo fartura. A sociedade mista se desfez e é flagrante a falta de produtos e de cuidados. Vou para a calçada dividir o sol maravilhoso e continuo regando as plantas, o exercício domingueiro que me dá prazer.

Depois, sento-me com o evangelho sobre as pernas, calo um pouco a mente, estico o ouvido para os passarinhos que dão graças a natureza. Olho para as nuvens que passam lentamente. A sensação é que se demoram para que percebamos a sua presença.

Não escuto tambores, muito menos cornetas e passos firmes numa marcha lembrando determinação. Quando menina, ia para avenida acompanhar os desfiles do sete de setembro. O som vai longe, mas a pátria continua. O meu país é cheinho de gente séria, trabalhadora, madrugadora como eu, esperançosa, resistente e teimosa.

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